Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 09-06-2014

MESTRA REGINA: UM “TIPO INESQUECÍVEL”
Havia uma particular afinidade entre mim e ela: a formação cristã desde a meninice. Ela e eu recebemos dos Batistas Tradicionais o mesmo embasamento bíblico-doutrinário. Só as localidades eram diferentes: eu, no Norte do Estado e ela, no Sul.
MESTRA REGINA: UM “TIPO INESQUECÍVEL”
Foto: www.maratimba.com

Pouco antes de tê-la como mestra na Formação Continuada, eu a tinha visto, num desses encontros fortuitos de irmãos, num templo Batista, em Itaoca De pequena estatura, olhos vivazes, Regina não passaria despercebida, qualquer que fosse o ajuntamento de pessoas. Trocamos cumprimentos. Éramos, até então, desconhecidos um do outro.

O ano de 2013 foi o seu derradeiro, como professora. Fui agraciado! A saúde, requerendo cuidados especiais, fez com que, no quarto encontro agendado, nossa turma da área de Linguagens, sem aviso, "invadisse" a sala da professora Jaqueline, da área de História. Nunca soube detalhes do seu estado de saúde... Julguei que seria apenas uma ausência justificada e que a teríamos no próximo encontro. Tal não aconteceu. Substituída nos encontros seguintes, não a vi mais, desde então.

Com ela, tive apenas três aulas intensivas. Na primeira, mestra Regina, cativante, liderou-nos no estudo da diversidade humana na escola. Refletimos, juntos, sobre a Escola como um espaço público onde se aprende conhecimentos e habilidades necessárias para viver em democracia autêntica. O perceptível senso democrático da mestra servia como forte estímulo a que acreditássemos no conteúdo que estávamos estudando. Show de bola!

Segundo encontro. Mestra Regina toma-nos pela mão e nos faz viajar pelas alamedas prazerosas do saber. Tratamos, assim, olhos no olhos, de diferentes aspectos da diversidade humana na escola, enfatizando agora, a tolerância e o multiculturalismo. Anotei nessa "viagem" a frase citada por ela do pensador Boaventura Souza Santos: "As pessoas têm direito a serem iguais sempre que a diferença as torna inferiores; contudo têm também direito a serem diferentes sempre que a igualdade colocar em risco suas identidades." E aí, mais uma vez, a postura inconfundível da mestra dos olhos claros, corroborou para a assimilação dessa cristalina verdade. Grande Regina Helena!

O último encontro foi sintomaticamente marcante. Ali, conhecemos a Regina contadora de histórias. A mestra pegou o texto de Marina Colasanti, - "Uma Ideia Toda Azul" - e narrou-o, de memória, com verdadeira maestria. Quem valoriza, como eu, essa arte, ficou boquiaberto com a naturalidade, a entonação perfeita, as pausas, as ênfases... Era como se estivéssemos vendo aquele reizinho da narrativa achando o valioso tesouro, e encantando-se com ele; e deixando-o ali no local onde fora encontrado; e lá voltando por diversas vezes para, extasiado, apenas contemplá-lo. Admiramos, com a mestra, como aquele rei-criança pôde ter desprezado ao longo do tempo, o precioso achado, mas que, felizmente, tempos depois, saiu a encontrá-lo intacto, no mesmo lugar onde o deixara...

Regina, instigante, levou-nos a imaginar o sentido dessa metáfora. Fomos levados a pensar em algo experienciado, apreciado, temporariamente esquecido no tempo, necessitando ser buscado e reencontrado. Sim. O que, porventura outrora enchia nosso espírito e agora já não faz real sentido? Que elemento é esse que talvez em nós poderia estar perdido, esquecido na sala do sono, na ala do tempo? Entramos no seu jogo! Aí foram surgindo valores que jamais poderemos perder enquanto profissionais da educação. Não podemos olvidar o encantamento, a esperança, a infantil curiosidade, a redescoberta de si mesmo, o idealismo, o brilho nos olhos... Que momento fantástico!

Mestra Regina Helena! Que saudades... Estou escrevendo neste sábado de junho em que fomos dispensados da aula de Formação Continuada, porque você, segundo a fé cristã que sempre acalentou no peito, foi desfrutar com o seu Divino Mestre a promessa que Ele lhe confiou, quando asseverou : "Porque Eu vivo, você também viverá." (João XIV.19). Viva Regina Helena Souza Ferreira. Professora. Mais que isso: "Um tipo inesquecível".

Fonte: Redação Maratimba.com
 
Por:  Silvio Gomes Silva    |      Imprimir