Categoria Geral  Noticia Atualizada em 13-06-2014

Estopim dos protestos, passagem de ônibus subiu em 9 capitais em 2014
Aumentos variam de R$ 0,10 a R$ 0,35; MPL critica falta de investimentos. Em 2013, 10 capitais que haviam aumentado, reduziram após protestos.
Estopim dos protestos, passagem de ônibus subiu em 9 capitais em 2014
Foto: g1.globo.com

O movimento contra reajuste nas tarifas de transporte público foi a bandeira levantada por manifestantes que deu início a uma série de protestos em junho de 2013. A pressão popular fez o governo de algumas capitais do país voltar atrás no valor das tarifas, na época. Mas um levantamento realizado pelo G1 mostra que, um ano depois dos protestos, nove capitais já reajustaram o valor.

Em 2014, os preços das passagens de ônibus municipais subiram em Belém, Belo Horizonte, Boa Vista, Cuiabá, Goiânia, Maceió, Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Luís. Os aumentos variam de R$ 0,10 a R$ 0,35.

Após as manifestações de junho, 10 das 11 capitais brasileiras que haviam tido acréscimo no valor voltaram atrás. Aracaju, Curitiba, Goiânia, João Pessoa, Manaus, Natal, Recife, Rio de Janeiro, São Paulo e Vitória estão entre as que cancelaram o reajuste. A prefeitura de Fortaleza também tentou impedir o aumento, mas uma decisão da Justiça manteve o preço da tarifa em R$ 2,20. Quase 50 cidades anunciaram reduções na época, entre elas três capitais que nem tinham aumentado: Campo Grande, Macapá e Cuiabá.
Até abril, cinco capitais já haviam reajustado as tarifas.

Para os integrantes do Movimento Passe Livre (MPL) que capitanearam os protestos, mesmo com o novo reajuste, a guerra não foi perdida. "A questão do transporte coletivo nas cidades condensa uma série de problemas urbanos e os atos fizeram o povo pensar a respeito disso", diz Érica de Oliveira, de 23 anos, uma das coordenadoras do MPL em São Paulo.

"A nossa luta pelo passe livre continua. O dinheiro que está sendo investido em obras várias, como as da Copa, poderia ser investido em transporte público e baixar a tarifa. É a falta da priorização do uso dos recursos que está na causa deste aumento", acredita ela.

Greves de rodoviários

Algumas das capitais que tiveram reajustes em 2014 enfrentaram nos últimos meses greves de motoristas e cobradores de ônibus. Em Goiânia, uma reunião entre governo e as empresas de transporte coletivo decidiu subir a partir de 3 de maio a tarifa, que passou de R$ 2,70 para R$ 2,80. O valor, segundo a entidade, foi baseado nos reajustes do óleo diesel, da inflação e do salário dos motoristas. A tarifa não era corrigida desde abril de 2012.
Já em São Luís, o reajuste passou a valer no último dia 8, após uma greve dos rodoviários, que durou 16 dias, chegar ao fim com uma conciliação. A Justiça determinou reajuste salarial de 7,8% para a categoria e os valores das passagens de ônibus foram corrigidos em todos os níveis em R$ 0,30.

Belém também enfrentou 12 dias de paralisação de motoristas e cobradores: a greve terminou dia 10 de maio e, sete dias depois, a prefeitura anunciou que a tarifa passaria de R$ 2,20 para R$ 2,40 na capital e Região Metropolitana. Belo Horizonte só teve reajuste, também de R$ 0,20, em 10 de maio, após uma disputa judicial em que o Ministério Público havia conseguido barrar preliminarmente a elevação dos preços.

Algumas prefeituras, porém, reduziram a tarifa. Ribeirão Preto (SP) conseguiu aproveitar a desoneração, por parte do governo federal, da cobrança da contribuição para o PIS/PASEP e do COFINS sobre a receita de serviços de transporte público, e reduziu o valor em R$ 0,10, ainda em 2013. Em Florianópolis (SC), a prefeitura aumentou o subsídio e também contratou uma nova empresa para o serviço, reduzindo as passagens em R$ 0,15.

Doutor em engenharia de transportes da Universidade de São Paulo, Jaime Waisman vê uma relação indireta entre as greves dos rodoviários e os reajustes e entende que as prefeituras não estão conseguindo, com subsídios, manter o valor atual das tarifas. "O custo pessoal no setor é alto e, todo ano, em maio, há discussão para o dissídio, que incide sobre a impossibilidade de se manter as tarifas. As prefeituras teriam que cobrir a diferença, dando subsídios às empresas, mas elas não tem condições para isso", afirma.

"A forma como é feita a política de transporte urbano no Brasil leva à situação em que todo ano tem que ter aumento das tarifas. Fica impossível segurar o valor", acrescenta. "No ano passado, as prefeituras foram pegas de surpresa e a questão política fez pressão para que mantivessem o preço. Mas alguém tem que pagar a conta, não existe almoço grátis", diz Waisman.

O MPL vê a justificativa do aumento dos custos, como salários e a inflação, para reajuste das tarifas como "falaciosa". "O que existe hoje é uma tentativa de justificar os aumentos, enquanto o dinheiro público está sendo mal investido. A catraca gira, a empresa está ganhando", entende Érica de Oliveira, de 23 anos, integrante do movimento em SP.

Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Maratimba.com    |      Imprimir