Categoria Geral  Noticia Atualizada em 29-07-2014

Passageiros reclamam de ônibus "queimando" parada no 2º dia
Demora entre os coletivos e a chuva atrapalham ainda mais vida do usuário. População que depende dos ônibus para se locomover está revoltada.
Passageiros reclamam de ônibus
Foto: g1.globo.com

Os passageiros que precisam pegar ônibus na manhã desta terça-feira (29), segundo dia da greve dos rodoviários no Grande Recife, enfrentam muitas dificuldades. Além do tempo maior entre as viagens, e da chuva que cai sobre a Região Metropolitana, alguns motoristas não estão parando em todos os pontos, "queimando" algumas paradas. Várias pessoas relatam ter feito sinal mais de duas vezes e os coletivos passaram direito.
A auxiliar de serviços gerais Maria José Batista pega ônibus todas as manhãs na Avenida Agamenon Magalhães, na altura do bairro de Santo Amaro. Nesta terça, fez sinal para dois coletivos e nenhum deles havia parado. "Pior é quando tem um já aqui pegando passageiro, os outros passam por fora. Três passaram e ignoraram as pessoas que estavam aqui. Ter que enfrentar chuva e ainda isso? É um absurdo", afirma a auxiliar.


O vigilante Luiz França desistiu de tentar pegar transporte público para chegar ao trabalho, na Avenida Abdias de Carvalho, e aguardava uma carona. "Eu vi muitos ônibus "queimando" parada hoje. Ontem também tive que ir de carona, preciso de dois ônibus para chegar ao trabalho. Para voltar, não tinha carro, vim caminhando até o [shopping] Tacaruna", relata o vigilante.
O publicitário Fernando Magalhães recebeu autorização para conseguir pegar um táxi de uma associada que tem convênio com a empresa em que trabalha. O problema era que não conseguia carro que fosse buscá-lo. "Acabei optando por tentar pegar ônibus mesmo. É muito complicado para quem só tem opção do transporte público", conta Magalhães, que tentava pegar ônibus na Praça do Derby.
Também próximo à Praça, o técnico em instrumentos Cláudio Vanderley aguardava há uma hora por um ônibus com destino a Piedade, em Jaboatão dos Guararapes, Região Metropolitana do Recife. "Ontem não consegui ir trabalhar e acho que não vou de novo, já avisei ao patrão, não tem como ir. Os ônibus estão passando direito, mas o meu mesmo não passou", afirma Vanderley.
Após enfrentar dificuldades para conseguir um ônibus que a levasse de Casa Amarela ao Derby, a gerente de condomínio Ísis Santos não tinha certeza se conseguiria chegar a Setubal, na Zona Sul da cidade. "Já vi ônibus queimando parada hoje, está difícil. Espero conseguir chegar ao trabalho", aponta.

Chegar ao trabalho é algo que a faxineira Maria da Silva tenta desde 6h20, quando saltou de um coletivo na Avenida Caxangá e tentou pegar outro na Avenida Visconde de Albuquerque, no bairro da Torre. Às 8h20, ainda não tinha conseguido transporte. "Não passa o Rio Doce, ontem disseram que não rodou, mas preciso dele. Eu estou tentando ir trabalhar, mas se não conseguir chegar, paciência. Se o patrão não entender, paciência também", aponta.
Aguardando no mesmo ponto há uma hora pela linha que segue para Dois Unidos, o segurança Emanoel Rodrigues estava indignado de não conseguir ir para casa após trabalhar a madrugada inteira. "Esses 10% que os motoristas querem, vai ser descontado no trabalhador e a gente não tem um serviço público de qualidade não", reclama o segurança.
Na Rua José Osório, na Torre, a situação não era mais fácil. Precisando buscar um documento no Detran, o operador de empilhadeira Andrade Luiz aguardava há mais de meia hora. "Vou tentar pegar um que passe menos longe e vou andando. Com a qualidade que a gente tem de ônibus, é até pouco o que eles [motoristas e cobradores] estão fazendo", acredita Luiz.
A autônoma Ozanna Portela conta que na Avenida Caxangá o fluxo de ônibus não está muito diferente dos dias normais – o que não significa dizer que a situação é tranquila. "Todo dia aqui [na altura da Torre] os ônibus queimam parada. É normal, a gente vê todo mundo reclamando sempre. Hoje até que estão respeitando", explica.
Após um plantão de 24 horas, a técnica em enfermagem Tereza Araújo tentava voltar para casa, na UR-07. Porém, na Avenida Caxangá, ela não viu seu ônibus. "Estou há mais de quarenta minutos esperando, assim como o pessoal que vai para Camaragibe. Depois de 24 horas plantão, quero mais é chegar em casa, estou cansada", reclama.
Com consulta marcada no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o motorista Antônio Elói conseguiu uma carona até parte do caminho e pegou um táxi para a parte final. O problema é conseguir retornar para Prazeres, em Jaboatão, sem ter como pagar um novo táxi. "Eu entendo a situação do pessoal dos ônibus porque também sou motorista, sei como é cansativo, mas chuva e greve é muito difícil", afirma Elói.
Dentro da UFPE, que suspendeu as aulas nesta terça devido à paralisação das atividades dos rodoviários, as paradas estavam vazias. Em uma era possível ver alguns funcionários da universidade que foram resolver questões administrativas. Apesar disso, não havia reclamações quanto à circulação dos coletivos.
Primeiro dia
Na noite de segunda (28), primeiro dia de paralisação, a reportagem encontrou coletivos parados no Joana Bezerra e usuários disputando espaço nos poucos veículos que chegavam ao terminal. Impacientes com a espera, alguns passageiros tentaram subir em ônibus antes do desembarque dos demais usuários, criando um tumulto. Apesar da greve, o terminal estava esvaziado, com número de passageiros abaixo do esperado para o horário.

Ônibus parados
O Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários Urbanos da Região Metropolitana do Recife, em coletiva de imprensa realizada nesta segunda, informou que a categoria tentou, desde o início da manhã, cumprir a determinação do Tribunal Regional do Trabalho (TRT), colocando 100% dos ônibus nas ruas em horário de pico. O Sindicato creditou o percentual de 75% da frota em circulação, número divulgado pelas empresas de ônibus, às próprias companhias, que teriam impedido os grevistas de trabalhar, reduzindo o número de veículos que saíam das garagens e contratando motoristas e cobradores terceirizados.
Em nota oficial divulgada no começo da noite, o Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros no Estado de Pernambuco (Urbana-PE) afirma que, junto com suas associadas, "estão se empenhando para minimizar os transtornos que a greve deflagrada pelos rodoviários causa à população. O sindicato espera restabelecer no menor prazo possível a normalidade do serviço de transporte público por ônibus". A entidade disse também que, no final da tarde, a média de ônibus em operação foi de 57% da frota.
O Tribunal Regional do Trabalho marcou para a tarde desta terça (29) a audiência de conciliação entre as partes. Em seguida, terá início a sessão que vai julgar o dissídio coletivo. O Urbana-PE informou que pediu à Justiça que a greve seja considerada abusiva.
O porquê da greve
Motoristas, cobradores e fiscais de ônibus decidiram cruzar os braços em assembleia realizada no dia 23. Eles aprovaram indicativo de greve e comunicaram a decisão ao Ministério Público do Trabalho (MPT). A categoria não aceita a proposta de reajuste de 5% nos salários e no tíquete-refeição, feita pelo Urbana-PE. Eles querem aumento de 10%, proposto pelo MPT, e elevação no valor do tíquete-refeição de R$ 171 para R$ 320.
A greve deve afetar a vida de cerca de 2 milhões de passageiros que utilizam o transporte diariamente na Região Metropolitana. Atualmente, o sistema conta com aproximadamente 3 mil veículos integrando a frota, distribuídos em 385 linhas e 18 empresas operadoras de ônibus. São feitas, em média, 25 mil viagens por dia. O sistema conta também com mais de 15 terminais integrados.

Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Gabrielly Rebolo    |      Imprimir