Categoria Geral  Noticia Atualizada em 08-08-2014

Funcionários denunciam Samu precário em Itaquaquecetuba
Imagens mostram ambulâncias sem equipamento e pneus remendados. Coordenador admite problemas e afirma não ter dinheiro.
Funcionários denunciam Samu precário em Itaquaquecetuba
Foto: g1.globo.com

Funcionários do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Itaquaquecetuba denunciam que o serviço está em condições precárias. Eles afirmam que as ambulâncias muitas vezes não têm nem condições de rodar e podem colocar até pacientes em risco.
"É serviço de transporte, serviço de carga. É pegar como se fosse um animal, colocar dentro da ambulância, e sair correndo para o Santa Marcelina, sem nenhuma condição de trabalho. É o que está acontecendo com o Samu de Itaquaquecetuba". Essa é só uma das denúncias dos funcionários que, com medo de punições, pedem para não ser identificados. Eles dizem que o município tem cerca de dez ambulâncias, mas apenas uma está em condições de uso. Segundo os funcionários, as outras estão em manutenção há pelo menos um ano.
Imagens gravadas pelos próprios funcionários mostram que em um dos veículos há um grande vazamento de óleo. Em outros carros, pneus carecas e remendados. "São carros sem pneu, carros sem embreagem, sem freio e não têm condições de trabalho", conta um dos funcionários.
A equipe da TV Diário visitou a base do Samu e viu que a cidade só contava com uma ambulância do serviço funcionando e outras duas emprestadas da Prefeitura, bem menores e adaptadas em carros de passeio.
Um dos veículos não tinha condições de atender, mas foi prestar atendimento a um caso de AVC. Ela não é equipada para receber esse tipo de atendimento, mas era a única solução possível. "Não tem o que fazer com aquela ambulância para atender uma ocorrência mais grave. Ela não tem o mínimo de estrutura, espaço, equipamento", continua o funcionário.
Estrutura
Os problemas vão muito além das condições das ambulâncias. No alojamento dos enfermeiros, e motoristas há camas quebradas, colchões velhos e rasgados, banheiros sem portas e sem assentos nos sanitários. Na sala de espera, o forro do teto está cheio de goteiras e caindo. A sala de treinamento virou depósito para sucata. Equipamentos como macas estão todos jogados e não há o básico para atendimento de emergência.
"Falta muito material de base. Já houve situações da gente ter que pedir luva emprestada em hospital. Eu passei por isso. E colar cervical", revela outro funcionário.
Quem trabalha ali reclama que até hoje o Samu de Itaquaquecetuba não forneceu uniformes. Todos precisaram comprar ou usar as roupas do Samu de outros municípios como Mauá e Guarulhos. "Para você estar uniformizado você gasta do seu bolso no mínimo R$ 500. Para você que ganha um salário de R$ 800 por mês e tem família para sustentar é complicado, né?", continua o funcionário.
Os funcionários ainda acusam de assédio moral o médico Carlos Fernando Foganholi, coordenador do Samu de Itaquaquecetuba. "É impressionante. Ou você trabalha nessa situação ou pede a conta. É assim que ele fala para as pessoas. Fui questionar ele por que a ambulância estava os pneus carecas e ele falou que se eu quisesse rodar era para rodar naquela condição. Que era melhor rodar a 20 quilômetros por hora do que não rodar. E que se não estivesse contente que pedisse a conta", afirma um dos servidores.
Para o paciente que dessa vez teve sorte, foi para atendimento a única ambulância do Samu disponível na cidade. "Eu me sinto envergonhado porque é a cara da gente que está na rua", conclui o funcionário.
O que diz o coordenador
Coordenador do Samu, Carlos Fernando Foganholi afirma que as denúncias são cabíveis. "A gente passa por uma dificuldade importante no Samu. Não é algo que se isole somente no Samu de Itaquá. Acho que outras cidades também passam por situações financeiras e têm essas dificudaldes para que a gente possa adequar o serviço à população. Nós da coordenação passamos à Secretaria de Saúde, à Prefeitura, todos os problemas que enfrentamos e pedimos para que seja feita alguma coisa para melhorar a parte estrutural, o conserto dessas ambulâncias, para que possamos dar um melhor atendimento".
"Contra fatos não há argumentos. A verdade é essa que foi mostrada na reportagem. Eu estou há nove meses na coordenação e já peguei nesta situação. O Samu existe há sete anos e nunca houve um investimento. Arrumamos algumas ambulâncias, consertos paliativos para que a gente possa não parar o atendimento. Porém, não é suficiente. Arrumamos as ambulâncias em uma semana, trabalhamos umas duas semanas, acaba aparecendo um outro problema, quebrando uma outra peça. Precisa fazer um trabalho de manutenção preventiva", admite o coordenador.
Foganholi explica que não tem autonomia para resolver os problemas sozinho. "Se fosse de minha vontade não deveria nem ter acontecido. Porém, o que posso fazer é passar para a pessoa responsável, que seria a Secretaria de Saúde. A autonomia que tenho é mostrar que existe o problema e pedir a solução dele. Mas o Samu não tem um recurso próprio, uma conta bancária onde fica algum dinheiro e dependa de mim para o conserto. Eu tenho que passar para a parte administrativa, para a Prefeitura, a Secretaria de Finanças, que tem como liberar a verba e pedir para consertar as ambulâncias".
Contudo, ele conta que a situação deve melhorar a partir da próxima semana. "O que eu tenho para dizer é que na reportagem mostra que é uma ambulância nossa do Samu e duas ambulâncias do setor de ambulâncias. E que de segunda-feira estará sendo colocado duas ambulâncias em funcionamento, consertadas, arrumadas e com a possibilidade de até de três ambulâncias".
O coordenador também admite que pediu para que o funcionários rodassem "nem que fosse a 20 por hora". "Eu estou aqui de cara aberta respondendo para vocês. Quem faz a denúncia não mostra também a cara. As pessoas que fizeram a denúncia, que eu sei, não fazem nem parte do quadro de funcionários do Samu. Existe a realidade dos problemas, porém, falar que a gente obriga a andar com a ambulância sem condições nenhuma não é uma verdade. As ambulâncias andam com uma certa precariedade, com um certo defeito, a gente admite que tem isso. Porém, eu também não posso parar de assistir a população. Não posso fechar o Samu e não dar uma assistência. Nós temos vários acidentes e eu não posso deixar de socorrer ninguém por alguns problemas que a gente tem na ambulância e que ainda há condições de socorro", expõe.
Chá
Em outro caso relacionado ao Samu de Itaquaquecetuba, uma família diz ter pedido ajuda ao serviço porque um parente, um homem de 55 anos, não se sentia bem e a orientação foi dar um chá para o paciente. Horas depois, ele morreu.
Segundo a família, uma médica afirmou que a insônia teria causado o mal estar no homem. Ela orientou que fosse dado chá de camomila. Os parentes foram informados de que não era possível enviar uma ambulância ao local.

Carlos Fernando Foganholi afirma que o caso está sob investigação. "Está sendo feita uma sindicância, apurando todos os fatos. Nós temos algumas dúvidas também a respeito desse caso. Segundo a família, o paciente estava passando mal há 12 horas. Então eu acho que houve também uma demora no pedido de socorro. O segundo é que nós não temos uma central onde diz que essa ligação realmente entrou para o nosso Samu. O 192 pode ser ligado e caído em qualquer região. A denunciante diz que foi uma médica que a atendeu e disse para ela o que deveria ser feito. Nós não tínhamos médicas no nosso plantão", conta.
Contudo, há dificuldades no trabalho de apuração. "Esse é mais um dos problemas que nós enfrentamos. Nós não temos um sistema de gravação, que deveria existir. A estrutura realmente é precária. Vou fazer um sindicância com cada um dos envolvidos que estavam durante aquele plantão para ouvir a versão deles, se houve essa ligação, se alguém tem conhecimento. Até agora me passaram que não foi pertinente essa ligação"
O coordenador conclui reiterando a promessa das novas ambulâncias e comunicando uma reforma. "Segunda-feira (11) terá duas ambulâncias rodando e a reforma da nossa central vai começar daqui a 15 dias. A Prefeitura está buscando recursos no Ministério para adequar o Samu".

Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Gabrielly Rebolo    |      Imprimir