Categoria Geral  Noticia Atualizada em 17-09-2014

"Não consigo trabalhar", diz boliviano inocentado por mortes
Há um ano ele foi apontado como principal suspeito de matar a família. Justiça revogou prisão após oito dias de detenção.

Foto: g1.globo.com

Um ano depois de ser suspeito da morte de sua companheira e de quatro filhos dela em Ferraz de Vasconcelos, o boliviano Alex Petraza tenta retomar a vida. Ele foi preso sob suspeita de ter envenenado a mulher e as crianças. Chegou a ficar detido durante 8 dias, mas foi colocado em liberdade, após a justiça ter revogado a sua prisão, já que o laudo pericial comprovou que não houve envenenamento. "Eu era autônomo, fazia manutenção de celulares e trabalhava com o meu tio. Depois do que aconteceu não consigo trabalhar porque me volta tudo, fico lembrando tudo", conta. Hoje, o boliviano se mantém ajudando a tia em sua loja de bijuterias no centro de São Paulo, onde faz entregas, cobranças e serviços bancários.
Na madrugada do dia 17 de outubro de 2013, a auxiliar de enfermagem Dina Vieira da Silva, de 42 anos, e seus quatro filhos Karina Rosa da Silva Lopes, de 16 anos, Carlos Daniel da Silva Lopes, de 12 anos, Carolina Laura da Silva Lopes, de 11 anos, e Vitória Cristina da Silva, de 7 anos, foram encontrados mortos no apartamento de um condomínio na Rua Massato Sakai, em Ferraz de Vasconcelos. Dina e Alex eram namorados e da relação deles nasceu uma menina de seis anos que vive com o pai, em São Paulo.

"Eu sempre ia na casa da Dina sábado à noite. Ficava sábado e domingo. Fiquei com ela e à noite me despedi. No outro dia ela não atendia e eu fiquei preocupado", recorda Petraza. No boletim de ocorrência constava que o boliviano chegou ao apartamento, bateu na porta e ninguém atendeu. Ele disse à polícia que deu a volta e pela sacada viu duas crianças caídas na sala. Depois chamou o síndico e um outro morador para arrombarem a porta.
Como havia muito vômito e fezes no apartamento, a polícia recolheu alimentos para exames toxicológicos. O laudo concluiu que não havia veneno. Já os laudos necroscópicos apontaram que as vítimas morreram intoxicadas por monóxido de carbono.
Uma avaliação dos resíduos de gás no apartamento apontou que o imóvel era abastecido por gás GLP, usado em botijões de residências. No entanto, a polícia informou que o aquecedor de água instalado era próprio para ser utilizado com gás natural e não por GLP. Além disso, o laudo determinou que não havia um duto de chaminé o que gerou em demasia o monóxido de carbono dentro do apartamento, provocando as mortes.

A prisão
O que Alex não esperava é que seria considerado o principal suspeito das mortes. Ele ficou preso preventivamente por dias, até que um laudo pericial comprovou que o bolo e o suco encontrados na casa não haviam sido envenenados.
O boliviano diz que jamais esquecerá do dia em que foi preso. "Eles me pegaram e falaram "foi você, foi você" e não era eu. Fui eu que chamei a polícia. Eles tiraram minhas roupas, celular e carteira. Eu tinha certeza que ia ser solto logo porque não fui eu. Não fiz nada. Eles diziam "fala que você matou, fala!". Queriam que eu confessasse, sendo que não fui eu", recorda.
Alex ficou detido na cidade de Suzano. Ele conta que teve um defensor nos dias de cárcere. "Fiquei oito dias preso. Fiquei desde o primeiro dia separado do resto do pessoal. Tinha gente que chegava e falava "cadê o boliviano?, cadê o boliviano que matou o pessoal de Ferraz?". Eu estava com um cara que foi preso por pensão alimentícia e ele falava para os outros "não foi ele que matou o pessoal não". Ele falava para mim "eu sei que não foi você. Você não tem cara de que fez isso".
Petraza conta que sente muito por não ter podido se despedir de Dina e as crianças. "Eu não consegui ir no enterro nem nada. Isso que foi o pior. O pessoal já tinha sido enterrado quando me soltaram. Me libertaram só depois do laudo do IML que comprovou que o bolo e o suco não estavam envenenados", conta.
Atualmente, Alex mora com a mãe e a filha de seis anos, fruto de seu relacionamento com Dina. Ele diz que não consegue retomar sua antiga profissão. "Ainda está recente, fico esperando passar um pouco mais. Você quer trabalhar, mas não sai [não rende]".
Sob investigação
Um ano depois, o caso continua sendo investigado pelo Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), mais precisamente pela 3ª Delegacia de Polícia de Repressão a Homicídios Múltiplos.
Em nota, o delegado Luiz Fernando Lopes Teixeira afirmou que "as investigações para apurar a responsabilidade da construtora prosseguem. Diligências estão sendo realizadas para localizar e ouvir funcionários da época sobre a entrega das chaves dos apartamentos após a instalação do sistema de gás".
Construtora
A construtora Cury, também por meio de nota, se manifestou afimando que "os proprietários recebem, junto com as chaves, o Manual do Proprietário, onde constam informações sobre o tipo de gás utilizado e orientações quanto à instalação de aquecedores".
Além disso, a empresa afirma que implantou iniciativas para orientar melhor os proprietários. "Todos os procedimentos da construtora sempre estiveram corretos, porém, a mesma criou um projeto (Vida Melhor em Condomínio) que consiste em oferecer palestras de orientação aos moradores sobre diversos assuntos, entre eles, a importância sobre o quesito gás", conclui.

Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Gabrielly Rebolo    |      Imprimir