Categoria Geral  Noticia Atualizada em 29-10-2014

Cidade no interior de Minas Gerais reflete resultado das urn
No pa�s e em Luisburgo, porcentagem de votos foi quase a mesma. Com cerca de 6 mil habitantes, munic�pio tem economia voltada para o caf�.
Cidade no interior de Minas Gerais reflete resultado das urn
Foto: g1.globo.com

Minas Gerais, pela diversidade do perfil de sua popula��o, foi um bom term�metro para o resultado das elei��es presidenciais deste ano. O retrato do mapa eleitoral mineiro se assemelha ao brasileiro, que concentrou a maior parte dos votos para Dilma Rousseff ao Norte e maior parte dos votos para A�cio Neves ao Sul. Mas, das 853 cidades do estado, uma em especial foi o reflexo, quase id�ntico, da vota��o no pa�s: a pequena Luisburgo, na Zona da Mata.

No Brasil, a candidata petista e o candidato tucano tiveram, respectivamente, 51,64% e 48,36% dos votos v�lidos do segundo turno. Na cidade mineira, os �ndices s�o praticamente os mesmos � 51,63% para Dilma e 48,37% para A�cio. At� a porcentagem de absten��o foi parecida. No pa�s, 21,10% do eleitorado n�o compareceu �s urnas. Em Luisburgo, a aus�ncia foi de 21,14%.

Entretanto, se o n�mero de eleitores brasileiros chega a quase 143 milh�es, o da cidadezinha mineira � de pouco mais de 5 mil pessoas. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE), cerca de 6 mil habitantes vivem no munic�pio, que foi emancipada de Manhua�u na d�cada de 1990 e que tem o caf� como a principal for�a de sua economia.

O resultado acirrado das elei��es presidenciais em Luisburgo � logo percebido no centro da cidade, que concentra o com�rcio, a principal pra�a e a igreja dedicada ao padroeiro S�o Lu�s Gonzaga. Apesar de muitas propagandas de deputados estaduais e federais espalhadas pelas casas, s�o poucas as publicidades de Dilma e A�cio vistas no munic�pio, hoje governado pelo PT.

A vendedora e universit�ria Maria Tha�s de Andrade, de 20 anos, foi respons�vel por um dos 1929 votos recebidos por A�cio Neves no segundo turno do munic�pio. "Votei no A�cio pelos projetos dele e porque n�o concordava muito com os planos da Dilma", justifica. A jovem, que � cat�lica, diz que, entre os motivos de discord�ncia da plataforma da presidente reeleita, est�o o casamento gay e o aborto � pr�ticas em rela��o �s quais a estudante se posiciona contrariamente.

At� as 14h, Maria Tha�s trabalha em uma loja, no fim da tarde, vai para a vizinha Manhua�u, onde faz faculdade de psicologia. Ela conta que o curso � pago com aux�lio do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Antes, j� havia feito um curso de auxiliar administrativo pelo Pronatec. Apesar de beneficiada por programas do governo federal, ela tem uma postura cr�tica em rela��o � pol�tica atual. "Ela [Dilma] cria muitas bolsas, e o pessoal est� ficando acomodado", diz. A jovem acredita que a vit�ria do PT no munic�pio pode ter sido alavancada pelos benefici�rios de projetos do governo, que teriam medo de perder a ajuda que v�m recebendo. "Eu acho que o A�cio n�o iria tirar os benef�cios", contrap�e.

Pr�ximo � loja onde ela � vendedora, fica a farm�cia em que a universit�ria J�lia Cristina Moreira de Abreu, de 18 anos, trabalha. Eleitora de Dilma, ela faz parte do grupo de 2.059 pessoas que digitou o 13 nas urnas no �ltimo domingo. Assim como a apoiadora de A�cio, J�lia faz faculdade em Manhua�u. O curso de ci�ncias biol�gicas tamb�m � custeado por meio do Fies. Apesar da semelhan�a na rotina das duas, que se dividem entre trabalho e estudo, a vis�o sobre os programas sociais do governo Dima, entretanto, � bastante diferente.

J�lia trabalha desde os 14 anos e quer ser professora em Luisburgo. Para ela, sem benef�cios a que tem acesso, sua vida estaria "sem vis�o para o futuro". Al�m do Fies, ela conta que a fam�lia faz parte dos benefici�rios do Minha Casa, Minha Vida e do Programa Nacional de Desenvolvimento da Agricultura Familiar (Pronaf). "Sem eles, eu n�o ia estar estudando, n�s n�o �amos ter a casa, n�o �amos ter moto, meu pai ia estar secando caf� no terreiro de ch�o", pontua. Ela acredita que, se eleito, A�cio governaria para os ricos. "O projeto dela [Dilma] � para ajudar gente da classe mais pobre. Eu acho o A�cio ia fazer coisa para rico", compara.

J�lia, atualmente, mora na zona urbana, mas sua fam�lia � da zona rural de Luisburgo. Segundo dados do IBGE, cerca de 70% da popula��o vive em comunidades rurais, que, normalmente levam nome de c�rregos. Um destes povoados � o c�rrego Fortaleza.

Na manh� desta ter�a-feira, a concentra��o de mulheres em frente a uma das casas desta comunidade chamava a aten��o. A aglomera��o no local contrastava com ruas � de terra � praticamente vazias. O avental que todas vestiam logo dava pistas do que se tratava aquele encontro, iniciado com a ora��o do "pai nosso".

O que reunia aquelas mulheres, de diferentes idades, era um curso de corte e costura do Pronatec e o que unia praticamente todas era o voto. Das 15 alunas, 13 ajudaram a reeleger Dilma. As aulas s�o ministradas pela instrutora Mar�lia Soares Martins. Ela diz que, de 0 a 10, d� nota 9 para o interesse das alunas. "� uma das melhores turmas que j� peguei", destaca.

Entre as alunas "dilmistas", est� Caroline �rica de Souza C�rtes, de 21 anos. Depois de passar uma temporada fora do c�rrego Fortaleza, per�odo em que morou em cidades de Minas e do Esp�rito Santo, a jovem voltou para a casa dos pais, mas j� vive a expectativa de se mudar novamente. Mas, desta vez, a mudan�a ser� para bem perto. Ela � uma das pessoas que s�o beneficiadas pelo Minha Casa, Minha Vida na comunidade. A nova morada de Caroline ainda est� em constru��o. Ela conta que a irm� dela, que tamb�m est� inscrita no curso de corte e costura, j� vive em uma das casas do programa, com o marido e com filho.

Caroline estudou at� o 3� ano do ensino m�dio e diz que n�o quis fazer faculdade porque planeja abrir um neg�cio pr�prio. Ela acredita que a vida dela e de pessoas da regi�o melhorou nos �ltimos anos. "Hoje todo mundo tem moto, tem smartphone, notebook", lista. Em contrapartida, ela cr� que, caso A�cio Neves tivesse chegado � presid�ncia, o tucano beneficiaria, principalmente, empres�rios. "Porque ele [A�cio] gosta de rico, a campanha foi toda baseada em empres�rio, o pobre ia estar �ferrado�", conjectura.

Nem todos os habitantes de Luisburgo compartilham do pensamento da jovem Caroline. O cafeicultor Jos� dos Santos diz que, de cora��o e enquanto estiver vivo, vota no PSDB. "Acho que a melhoria do pa�s come�ou no PSDB, e o PT s� fez a continuidade. O governo PSDB era melhor, o de agora s� segurou e n�o melhorou", compara.

O agricultor era meeiro at� a d�cada de 1990, e, desde ent�o, tem seu pr�prio terreno para plantio de caf�. Ele conta com recursos do Pronaf, mas diz n�o estar totalmente satisfeito com o programa. Santos tamb�m n�o anda contente com o pre�o da saca de caf�. Segundo ele, por causa da disputa eleitoral, o comportamento da bolsa de valores causou reflexo no pre�o do produto. "Quando A�cio estava � frente das pesquisas, o caf� estava valendo R$ 500 a saca, hoje o valor deve estar em torno de R$ 415", diz.
A prefer�ncia do agricultor por A�cio tamb�m t�m outros motivos; um deles � a religi�o. "Voc� j� ouviu Dilma falar em Deus ao menos uma vez?", questiona. Para Santos, um presidente cat�lico, como o tucano, seria melhor para o Brasil.

Em Pedra Dourada, A�cio Neves tamb�m teve votos na casa de Andreia Pereira Rodrigues, de 30 anos. Ela e o marido optaram pelo 45. A chegada do asfalto na estrada que liga Luisburgo a Manhua�u, durante a gest�o do PSDB em Minas, foi uma das raz�es levadas em conta pela fam�lia para decidir o voto.

Independentemente da op��o por Dilma e A�cio, os moradores de Luisburgo compartilham a vontade, de sempre, ter uma vida melhor. Muitos eleitores ouvidos pelo G1 na cidade apontaram a sa�de e seguran�a como �reas que requerem mais aten��o dos governantes. Mas, o eleitor de Dilma e agricultor Jos� Viera de Souza, de 52 anos, tem outra prioridade. Ele quer que as leis no pa�s sejam mais r�gidas e valham para todos.

Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Gabrielly Rebolo    |      Imprimir