Categoria Geral  Noticia Atualizada em 03-11-2014

Menino lembra que resolveu trocar de lugar meia hora antes
Kaíque Santos da Silva estava no ônibus do acidente grave que matou 13 pessoas em São Paulo.
Menino lembra que resolveu trocar de lugar meia hora antes
Foto: g1.globo.com

O Fantástico fala de um acidente muito grave, que deixou a pequena Borborema, no interior de São Paulo, em estado de choque. Treze moradores da cidade morreram num acidente de ônibus esta semana. A maioria eram estudantes entre 15 e 17 anos!

Num piscar de olhos, o inacreditável.

"Fechei o olho assim, abri de novo, falei: O que que é isso?", conta Taluana Ananda, de 17 anos.

Trinta alunos de uma mesma escola vivendo um inferno.

"Parecia que não era verdade, parecia que eu estava sonhando, não era real aquilo", diz Jéssica de Francisco, de 17 anos.

"Eu estava do lado que bateu. O meu banco foi o único que ficou intacto. Eu olhei para frente e tinha muitos corpos", relembra Raíssa Boaro, de 17 anos.

Quatro professoras, uma fotógrafa de 24 anos e oito adolescentes, entre 15 e 17 anos. Ao todo, 13 mortos.

"Meu irmão, infelizmente, estava dentro do ônibus, não se salvou. Foi horrível!", conta Taluana.

Foi uma semana difícil para os 15 mil moradores de Borborema, no noroeste do estado de São Paulo.

"Choque. Como está todo mundo em choque ainda, inconformado com essa situação", diz a catadora Fabiana Sena.

Na missa de quarta passada (29), os fiéis se juntaram aos feridos, como se fossem todos uma grande família enlutada.

"Cidade pequena, todo mundo se conhece, então era final de semana na casa da professora a gente marcava um churrasco, ia todos", lembra Christian Natan, de 16 anos.

Não há ninguém em Borborema que não tenha parentesco, amizade ou alguma proximidade afetiva com pelo menos uma das vítimas do acidente. A cidade inteira acompanhou os preparativos de uma viagem que era vista como uma excursão ao futuro. A tão sonhada visita à São Paulo era o início de uma nova etapa.

"A viagem estava sendo maravilhosa, todo mundo se divertindo, alegre, feliz porque passamos no vestibular", conta Christian Natan.

Enquanto a viagem prosseguia, os garotos iam postando fotos e mensagens nas redes sociais.

"A viagem foi espetacular, a gente fez uma oração, praticamente o caminho inteiro a gente foi dando risada, conversando, cantando", conta Lara Osti, de 16 anos.

Um concerto na sala São Paulo, uma visita ao aquário, shopping de cidade grande. Muitos foram à capital pela primeira vez. Uma turma inseparável comemorando o fim do ano letivo.

"Eles iam fazer a formatura, já estava tudo pago para eles fazer essa formatura. Estudaram todos esses anos juntinhos, não separam um minuto um do outro", conta a mãe de Nicanor, Cássia Pasini.

O último telefonema do filho não sai da cabeça de Cássia.

"Mãe, eu saí de São Paulo, eu estou indo embora. Às 11 horas você me busca na rodoviária? Busco", lembra Cássia.

Nicanor tinha 17 anos. Estudava, trabalhava e tinha aptidão para consertar aparelhos eletrônicos. Acabara de passar no vestibular. Queria ser engenheiro.

"Hoje eu tenho 31 anos, meu irmão faleceu com 17 anos e ele era aquele menino que se eu chegasse aqui ele me pegava no colo", lembra a irmã Ana Paula Pasini.

A expansividade natural dos adolescentes era a marca de Thayro.

"Moleque perfeito, sonhador, tinha passado na faculdade, a gente ia começar a estudar tudo junto de novo", conta a irmã de Thayro, Taluana Ananda.
Ele e o amigo de todas as horas, Ângelo, morreram lado a lado.

"Falar do Thayro e do Ângelo... É sempre pessoas que estavam desde pequeno jogando bola, sempre alegres, pessoas maravilhosas", diz Cristian Natan.

O futebol era a grande paixão dos garotos da turma. Habilidoso, Leonardo estava, aos 17 anos, se preparando para a carreira de jogador profissional. Em uma foto no vídeo acima, ele aparece com Cássio, o goleiro do Corinthians.

Léo se feriu gravemente no acidente. A irmã machucou o braço, a mãe, professora Margarete, morreu na hora. Até quarta passada, o garoto ainda permanecia na UTI.

"Meu filho foi transferido para Bauru. Hoje ele está em Bauru, mas a situação dele não é boa", conta o pai de Leonardo, Joel dos Santos.

Na quinta, ele não resistiu. Joel, que tinha enterrado a mulher na terça, teve de sepultar também o filho.

Os amigos se despediram cantando o hino do Palmeiras, por quem o garoto torcia.
leitura em asilos e escolas públicas. No bairro pobre onde ele morava, todos sabiam dessa sua dedicação.José Vinícius é a vítima mais jovem. Aos 15 anos, ele se dedicava ao trabalho voluntário de

Vizinha: Para mim é como se ele fizesse uma viagem, fosse passear e mudar de cidade. Porque não dá para acreditar.

Fantástico: Você foi criada com ele aqui?

Vizinha: Desde pequenininha.

O avô, que o criou, guarda um orgulho danado.

"Ele tinha muito sonho, ele queria sonhar alto. E ele conquistava os objetivos dele e ia muito além ainda", afirma o avô de José Vinicius, José Francisco.

Duas fotografias três por quatro do neto estão agora aos pés de uma imagem de Santa Luzia.

"Está bem chato. Sabe o quê? Não vê ele mais. Saber que ele nunca mais volta", diz o avô.

No dia 26 de outubro, um dia antes do acidente, o garoto postou uma mensagem premonitória: "Esta vida é uma viagem, pena eu estar só de passagem".

Mas o melhor amigo dele diz que é apenas mais uma das tiradas de um menino que sonhava em ser escritor.

"Ele sempre buscou o emocional da pessoa, ele sempre gostou de falar de amor, que é o que atinge mais o ser humano e tudo o mais", conta o amigo Kaíque Santos da Silva.
Kaíque viajou junto com José Vinícius.

"Ele nunca tinha ido para São Paulo, então ia ser a primeira vez. Ele estava encantado com tudo o que ele via, com tudo que ele via ele estava encantado, ele sempre gostou de viajar e São Paulo era o sonho dele", diz o amigo.

Meia hora antes do acidente, Kaíque, que estava junto do amigo, no lado direito do ônibus, resolveu trocar de lugar.

"Ele estava muito ansioso, então ele não queria deixar ninguém dormir, sabe? Eu falei: "Zé, eu vou dormir". Ele falou: "Vai". Eu pulei para o lado esquerdo. No primeiro banco também, só que do lado esquerdo, no banco que estava vazio. Eu cheguei lá e deitei, aí eu não vi mais nada", lembra.

Só depois é que se deu conta de que sobreviveu porque mudou de poltrona. Mas o amigo não.

"A dor é inexplicável. Não vou achar uma palavra no dicionário para falar assim: é isso", conta o amigo.

A escola estadual Dom Gastão Liberal Pinto passou a semana trancada à chave. Mas, nesta segunda-feira, as salas do segundo andar, onde as vítimas estudavam ou lecionavam, terão o enorme desafio de retomar a vida.

"Vai ficar uma dor. Minhas professoras, eu amava. Um amor gigante por elas, por ele, por todo mundo, pelo Thayro, o Ângelo, todos os que morreram, Leo, todo mundo, Felipe. A gente tem que ser forte, deus vai consolar o nosso coração e a gente tem de seguir em frente", diz Kaique.

Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Desirée Duque    |      Imprimir