Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 06-11-2014

DILMA DEIXOU CINQUENTA MILHÕES DE ELEITORES FRUSTRADOS

DILMA DEIXOU CINQUENTA MILHÕES  DE ELEITORES FRUSTRADOS

O censo demográfico do planeta nos diz que muitos países não atingem uma população de cinquenta milhões de habitantes. Contando com eleitores e não eleitores, naturalmente. Para usar uma gíria da minha geração: "Bicho!... É muita gente sonhando com mudança..."! É uma Coreia!...

Assim como tivemos o "maracanaço", agora foi a vez do "dilmaço" (reconheço a infame comparação, mas agora, já fiz...). Cinquenta milhões de brasileiros, sob qualquer ponto de vista, é um número considerável... É como se, numa família, pouco menos de um terço não estivesse satisfeito com a forma com que o maioral vem se comportando em relação aos princípios dos demais. Com uma agravante: se os insatisfeitos forem os membros mais conscientes, o fato se tornaria ainda mais significativo. É claro, a família não iria mandar o pai caçar rumo. O mínimo que poderiam fazer é não esconderem esse sentimento, como uma das formas de tocar na sensibilidade do chefe, fazê-lo botar a mão na consciência e tentar rapidamente conquistar a confiança perdida.

Devo salientar que sou apolítico. Política não é um tema que me faz gastar tempo, deixando sangrar as palavras que correm em minhas veias. Talvez fosse melhor se eu dissesse que sou um animal político desiludido, para lembrar Aristóteles (384-322 AC): "O homem é um animal político".

Tinha lá meus vinte e poucos anos quando os baianos "Doces Bárbaros" - Caetano, Gil, Bethânia... Aquela estirpe de artistas e intelectuais, no auge da sua desilusão, dizia nas entrevistas, não serem leitores de jornais, declarando-se, ironicamente "ignorantes políticos". Nessa época, sem ser nenhum doce e muito menos bárbaro, eu vivia o meu silencioso protesto: meu Título de Eleitor de 1969 era mantido virgenzinho da silva: nunca tinha sido usado para sua finalidade principal. Eu não o transferia em minhas mudanças de Estado. Estava no Rio de Janeiro e meu voto não foi contado entre os eleitores de 74, quando da famosa virada, ocasião histórica em que a oposição ganhou de ponta a ponta no território nacional, o que só fez acirrar o ódio do Regime. Não me convencia: queria votar no Presidente da República, privilégio que foi tirado dos brasileiros no golpe de 64. Em 1986, em Dourados-MS, estando em vigor a abertura política "lenta, gradual e progressiva", encetada por Geisel e assegurada por Figueiredo, permitiu-se o voto para governador, coisa que também nos tinha sido surrupiado... Só aí é que, esperançoso, vim a inaugurar meu Título. Votei, naturalmente, com a oposição, embalado pelas, ainda frescas, leituras de informativos nanicos da época: "Movimento" e "Pasquim"; e também como forma de homenagear meus parlamentares preferidos - Ulisses Guimarães, Orestes Quércia, Iris Rezende... e outros que não menciono para não despertar mau juízo de mim, por parte dos meus leitores. De lá pra cá mudei muito pouco. Quase nada.

Fui às urnas, agora, para votar em uma amiga, e só. Na fila de eleitores, porém, onde seria o próximo a entrar, bateu-me a ideia (maluca) de votar. E aí? Quem disse o que eu me lembrava do número? A eleitora em minha frente, por razões pessoais, acredito, não quis dizer. Disse que não sabia, mas indicou-me alguém: "Olha! Aquela moça ali sabe!". Obtive o número, memorizei-o e entrei na cabine indevassável, como se dizia, naqueles tempos... Quando conto isso, meus amigos acham graça... E como eu tenho fama de piadista, fica por isso mesmo. Na minha juventude eu dizia: "Quando esse circo pegar fogo, eu poderei dizer que não contribui com nenhum palito de fósforo..." Coisas de incipiente...

Cinquenta milhões de brasileiros!... Alguns deles – os noticiários falam em três mil -, saíram neste sábado último, dia 1º de novembro, para mandar o seu recadinho. Houve exageros nas palavras de ordem? Talvez. Mas ninguém quer ver repetições de atos que o próprio governo reconhece como feios escorregões. Nem todos aecianos sairiam às ruas, a fazer coro com os insatisfeitos que lá estavam. Até porque, acredito, alguns votaram pelo simples raciocínio de que democracia também implica alternância de poder. Posso estar errado. Admito.

Na minha indouta e nada abalizada opinião, o governo que se iniciará no ano que vem será melhor do que o que se finda neste. Mesmo entendendo o mínimo dessa praia pouco cheirosa que é a política, dá para afirmar que nenhum dono de poder por mais ânsia de totalitarismo que acalente, deixa de ouvir o recado das urnas. Nenhum governo é unanimidade, ("Toda unanimidade é burra", para lembrar Nelson Rodrigues) e é essa a compreensão que deve motivar os mandatários a serem meticulosos, e a usarem o bom senso. Os antigos dizem: "A virtude está no equilíbrio": Nem tanto Bolsanaro, nem tanto... Hugo Chaves. É por aí. Ou não...

Fonte: Redação Maratimba.com
 
Por:  Silvio Gomes Silva    |      Imprimir