Categoria Geral  Noticia Atualizada em 08-11-2014

Exposição, jogo e aplicativo mantêm viva memória
Alemanha quer que novas gerações conheçam implicações de barreira que dividiu cidade durante 25 anos
Exposição, jogo e aplicativo mantêm viva memória
Foto: www.g1.globo.com

Jogo de tabuleiro, revista em quadrinho, desenho animado e visita infantil a museu têm sido usados na Alemanha para tentar despertar o interesse de crianças e jovens para a história recente do muro de Berlim. O aniversário de 25 anos da queda, comemorado no dia 9 de Novembro de 2014, marca a primeira geração que cresceu em uma Alemanha unificada e não testemunhou o muro.

Para estes jovens a democracia parece ser algo evidente. Neste caso, relembrar regimes totalitários e restrições de liberdade são uma forma de evitar que a história se repita, por isso várias iniciativas tentam falar a língua deles para conversar sobre o assunto.

Entre elas está o jogo de tabuleiro Bürokratopoly, uma versão do Banco Imobiliário em um regime totalitário. Ao invés de adquirir propriedades, o objetivo é ascender politicamente na estrutura política burocrática da República Democrática Alemã (RDA). Entre fraudes eleitorais, atos de espionagem e perseguições políticas, a brincadeira possibilita a professores trabalhar com jovens de 9 a 13 anos temas como democracia e liberdade.
O jogo foi desenvolvido com o apoio da Bundesstiftung zur Aufarbeitung der SED-Diktatur (na tradução livre, fundação federal de reavaliação da ditatura na Alemanha Oriental). "Eles funcionam como o abridor de portas. Temos boas experiências de despertar o interesse de jovens desta forma e depois eles buscam saber mais sobre o assunto", conta à BBC Brasil Anna Kaminsky, coordenadora da fundação.

De acordo com Kaminsky, a entidade organizou recentemente uma pesquisa que revelou que 80% dos jovens gostariam de saber mais sobre a queda do Muro de Berlim. "Muitos alunos se graduam sem receber uma aula sobre os tempos do pós-guerra, a Alemanha Oriental e a queda do muro", argumenta ela.

De acordo com Kaminsky, isto acontece por diversos motivos, entre eles o fato de os professores terem autonomia sobre o conteúdo que é ensinado nas aulas. Além disso, esta parte da história recente não é conteúdo obrigatório das provas regulamentadas pelo ministério da educação alemão.

Por isso, a fundação se concentra no trabalho direto com os professores e no fornecimento de novos meios de contar a história aos jovens. Uma outra iniciativa é a revista em quadrinhos Grenzfall (queda da fronteira, na tradução livre) que conta a história real de Peter Grimm, um jovem que produzia um jornal contra o regime totalitário da antiga Alemanha Oriental.

No site da editora, os autores Thomas Henseler e Susanne Buddenberg contam que fizeram um grande trabalho de pesquisa. "Testemunhas e um historiador estiveram presentes em todas as fases do trabalho e nós usamos com frequência as sugestões deles. Tudo para evitar erros e coisas que não estavam muito claras", contam.

A preocupação com esta fidelidade aos fatos também esteve presente no desenho animado Duft des Westens (Cheiro do Oeste), que relata a fuga de um ex-morador da antiga RDA. A animação é toda feita com jornais da época, que revestem o personagem principal. A história de Reinhold Huff é real e aconteceu em 1973.

Duas Alemanhas
A Alemanha foi dividida em dois países após ser derrotada na segunda Guerra, em 1945. O setor ocupado pelas tropas dos Estados Unidos, Grã-Bretanha e França formou a República Federal da Alemanha, ou Alemanha Ocidental.

O setor de ocupação da antiga União Soviética se transformou na República Democrática Alemã, ou Oriental. O lado ocidental funcionava com um regime democrático com economia de mercado e, no lado oriental, foi implementado o comunismo, com uma economia planificada.
O muro de Berlim começou a ser construído no dia 13 de agosto de 1961 com o objetivo de evitar uma migração em massa de moradores da Alemanha Oriental para o lado ocidental, que vivia um bom momento econômico.

Estima-se que cerca de três milhões e meio de pessoas tenham migrado antes do muro ser construído. O muro caiu na noite de 9 de novembro de 1989 e, um ano depois, a Alemanha foi reunificada.

O muro para crianças
Na Bernauerstrasse há um memorial para as 138 vítimas que oficialmente morreram ao tentar cruzar o muro, mas muitos estimam que este número seja muito maior e ultrapasse 200. No centro de documentação do local foi aberta uma nova exposição para comemorar os 25 anos da queda do muro. A grande novidade é um segmento da exposição voltado ao público infantil.

Apesar de ser uma história pesada, Susanne Muhle, que cuida da parte educacional e pedagógica da Fundação Muro de Berlim, conta que o tema desperta um grande interesse nas crianças e jovens.

"Nos últimos anos, passamos a oferecer visitas-guiadas para crianças, porque notamos que muitas famílias visitavam o memorial e era preciso incluir as crianças. Nesta nova exposição, tentamos estabelecer um diálogo entre as gerações", conta.
Para isso, a exposição incentiva que os acompanhantes das crianças contem sobre como foi a experiência deles com o muro. Para o público infantil, as histórias são sempre curtas e vinculadas a um objeto histórico exposto para facilitar a compreensão.

Werner Coch é um dos que conta a sua história na exposição. Ele tentou escapar duas vezes da antiga RDA e acabou preso. "Acho bom que passeios de escola venham aqui, mas no estado de Brandemburgo uma parte dos professores é, de certa forma, fiel ao sistema e, por isso, não gosta de trazer as crianças a espaços como este. Estas visitas deveriam acontecer de maneira mais frequente", argumenta.

Aplicativo do muro
Para alcançar um público um pouco mais velho, de adolescentes, uma estratégia envolve o uso de novas tecnologias. O aplicativo para celular Berliner Mauer (que significa Muro de Berlim em portugês) foi desenvolvido para contar a história da divisão, enquanto se caminha pelo muro. O site Chronik der Mauer, (em português, Crônica do Muro) especializado na pesquisa da divisão das duas Alemanhas, contribuiu com o conteúdo.

"Nós queríamos disponibilizar esta informação para que fosse também usada em movimento e conectá-la aos lugares históricos. Com smartphones, vimos a possibilidade de com material multimídia, nos aproximarmos dos jovens", conta a redatora do projeto, Anna von Arnim-Rosenthal.

O site já foi baixado por 140 mil pessoas e tem sido muito usado também por turistas que visitam Berlim e querem saber mais sobre o muro.

Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Adriano Costa Pereira    |      Imprimir