Categoria Geral  Noticia Atualizada em 20-11-2014

A conta zerada dos empreiteiros e o vazamento de informações
A descoberta de que as contas bancárias de executivos de empreiteiras - que deveriam ser bloqueadas pela Justiça para o recolhimento de até R$ 720 milhões - estão zeradas lança no ar a forte suspeita de vazamento de informações da Operação Lava Jato.
A conta zerada dos empreiteiros e o vazamento de informações
Foto: www.jb.com.br

As primeiras varreduras mostram que as contas podem ter sido esvaziadas antes da determinação da Justiça Federal. O Banco Itaú informou, em ofício encaminhado à Justiça, que não havia valores a serem bloqueados nas contas de Walmir Pinheiro Santana (UTC Participações S.A.), Valdir Lima Carreiro (presidente da Iesa Óleo e Gás) e do lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano. Apenas R$ 4,60 que estavam na conta de Ildefonso Colares Filho foram bloqueados. Ildefonso deixou a presidência da Queiroz Galvão em abril deste ano, depois que a Operação Lava Jato foi deflagrada.

O Jornal do Brasil já havia alertado, em reportagem publicada no dia 12 deste mês, sobre indícios de que grandes empresas estariam se desfazendo de bens, como jatinhos. Com base em informações disponibilizadas pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), é possível consultar a situação de cada aeronave privada brasileira. A partir de uma busca com o nome das próprias empreiteiras na base de dados do RAB (Registro Aeronáutico Brasileiro) de setembro, pode-se descobrir o número da matrícula de determinada aeronave e então checar sua situação em uma plataforma de busca, que revelou que algumas aeronaves de empreiteiras estão em situação de hipoteca, penhora e arrolamento de bens.

A Mendes Junior, citada pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa em seus depoimentos, tem três aeronaves cadastradas em seu nome, como proprietária, e em uma delas também como operadora. Destas, com cadastro de Minas Gerais, todas estão em situação de hipoteca, penhora e arrolamento de bens, e outras ainda em arrendamento operacional. O Jornal do Brasil entrou em contato com a empresa por meio da assessoria de imprensa, para confirmar a suposta venda de aeronaves e a situação específica de cada uma das aeronaves consultadas, mas a empreiteira não respondeu.

A Queiroz Galvão tem uma aeronave registrada em seu nome como proprietária e operadora, e outra como operadora. A primeira está em situação de hipoteca e comodato, e a segunda em arrendamento operacional e comodato. A empreiteira também não retornou à reportagem.

A Construtora OAS, por sua vez, apresentava uma aeronave em seu nome, como operadora, com o campo "Data da Compra/Transferência" em branco, e situação de "alienação fiduciária / cessão onerosa de uso". Em resposta, a OAS informou que "a empresa encontra-se em processo normal de renovação de frota".

Na varredura atual nas contas bancárias de acusados da Operação Lava Jato, valores encontrados em algumas contas não foram significativos. Erton Medeiros Fonseca, sócio da Galvão Engenharia, teve R$ 4 mil bloqueados. Agenor Franklin Magalhães Medeiros, diretor da área Internacional da Construtora OAS, tinha R$ 6 mil na conta. Sergio Cunha Mendes, vice-presidente da Mendes Junior, teve cerca de R$ 33 mil bloqueados. A única conta em que foi encontrado um valor mais significativo foi na de Gerson de Mello Almada, um dos sócios da Engevix, onde havia valores superiores a R$ 1 milhão.

Nas contas de Dalton dos Santos Avancini, presidente da Camargo Corrêa, e de João Ricardo Auler, presidente do conselho de administração da empresa, no Banco Caixa Geral do Brasil, também não havia valores. Assim como na conta, no mesmo banco, de José Aldemario Pinheiro Filho, da OAS.

As contas zeradas acendem um sinal de alerta para supostos vazamentos de informações da operação. Se no mercado financeiro a atuação de insiders com informações privilegiadas visando o lucro é considerada crime, o que dizer se insiders que vazam informações para favorecer supostos criminosos, acusados de corrupção? O pior insider é o de ladrões de dinheiro. São tão coniventes quanto eles. A polícia deve intensificar as investigações para identificar estes insiders, e impedir a impunidade e o favorecimento dos que sangram os cofres públicos.

Fonte: www.jb.com.br
 
Por:  Desirée Duque    |      Imprimir