Categoria Geral  Noticia Atualizada em 05-12-2014

Dilma chega a Quito em meio a críticas de "perda de interess
A presidente Dilma Rousseff participa nesta sexta-feira da reunião de chefes de Estado dos países da União de Nações Sul-americanas (Unasul), em Quito, no Equador, em meio a críticas de que o Brasil teria perdido interesse nessa integração - que começou p
Dilma chega a Quito em meio a críticas de
Foto: www.bbc.co.uk

O cientista político argentino Rosendo Fraga, do Centro de Estudos Nova Mayoría, disse que o papel do Brasil "como potência global" acabou deixando sua política regional "um pouco no segundo plano".

Para Fraga, a Unasul foi "instrumento prioritário" na política exterior brasileira na primeira década do século 21, mas depois perdeu importância.

"O Brasil impulsionou a Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) os Países , que reúne todos os países da América Latina, e o âmbito global passou a ter maior peso na política exterior brasileira, com seu papel nos Brics e no G20".
O cientista político chileno Ricardo Israel, ex-candidato presidencial, diz que a Unasul "foi uma criação do Brasil", mas que o país "não quis exercer a liderança que lhe correspondia e a deixou nas mãos dos bolivarianos", em uma referência a Venezuela, Equador e Bolívia.

O professor de ciências políticas e estudos internacionais da universidade Torcuato Di Tella, de Buenos Aires, Juan Gabriel Tokatlian, compartilha dessa visão. "Apesar de o Brasil ter sido decisivo para a criação da Unasul, passou a lhe dar menor relevância desde a mudança presidencial de Lula para Dilma", afirmou.

Mas o subsecretário-geral de América do Sul, embaixador Antônio Simões, disse à BBC Brasil que "discorda completamente" da visão de que o Brasil estaria dando "menos atençao à Unasul" desde que passou a ser ator global, integrante dos Brics.

"Não é verdade. A América do Sul e a Unasul, são fundamentais para o Brasil. Sao nossos vizinhos e nossos sócios econômicos e comerciais. O Brasil sempre se dedicou e continua se dedicando com muitas iniciativas na Unasul. É o caso por exemplo da criacao da cidadania da Unasul, das iniciativas tambem na area de saúde e de defesa, entre outras", disse, falando de Guayaquil, onde participa da reuniao da Unasul.

Ele afirmou ainda que o Brasil é um "ator global" e continuará sendo, mas que isso "não exclui" seu interesse pela integração regional. "Ser global e regional não é alternativa, não são questões que se excluem. Para ser global é preciso ser forte no regional também."
Interesse

O professor da Universidade Untref, de Buenos Aires, Félix Peña, disse que percebe o Brasil "bastante envolvido" na Unasul, principalmente após o primeiro dia de reunião, um encontro de chanceleres e ex-chefes de Estado em Guayaquil, onde o ex-presidente Lula fez um discurso sobre a integração regional e foi bastante aplaudido pelos presentes.

"Eu acho que o fato de o Brasil ser Brics e impulsionar a Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) não diminui em nada seu interesse e decisão de levar a Unasul cada vez mais adiante."

"Uma coisa não prejudica a outra, um grupo não limita o outro. Ao contrário. E para mim esse interesse do Brasil ficou claro no encontro em Guayaquil", disse Peña, falando da capital argentina.

Segundo ele, as palavras de Lula "refletem o mesmo apoio" da presidente Dilma à Unasul.
Na quarta-feira, em Guayaquil, ao lado do ex-secretário-geral da Unasul, o ex-presidente colombiano Ernesto Samper, Lula disse que a região tem conseguido resolver seus próprios problemas e sem interferência externa, como a dos Estados Unidos. "Se não podem ajudar, que não atrapalhem", disse.

E acrescentou: "A integração é uma solução e não um problema", afirmou. Ele fez elogios ao processo de paz liderado pelo atual presidente colombiano Juan Manuel Santos com o grupo guerrilheiro Farc, elogiou ainda a postura da Argentina na disputa com financistas internacionais e recordou os ex-presidente Hugo Chávez, da Venezuela, e Nestor Kirchner, que morreram, pelo apoio que deram à Unasul. Seu discurso foi transmitido ao vivo pelas TVs equatorianas.

Democracia
Os analistas argentinos, chilenos e uruguaios ouvidos pela BBC Brasil concordaram que a Unasul mostrou ser "efetiva" em vários momentos na hora de "defender a democracia", mas que o mesmo empenho não ocorreu em questões como a integração física e de infraestrutura, por exemplo.

"A Unasul foi eficiente para preservar as democracias, como demonstrou nos casos do Paraguai, da Bolívia, da Venezuela e do Equador (que viveram diferentes turbulência políticas)", disse o professor uruguaio de história e de ciências políticas da Universidade da República, de Montevidéu, Gerardo Caetano.

"Mas a Unasul poderia ter avançado em outras áreas como a infraestrutura", afirmou.

Na mesma linha, falando de Santiago, no Chile, o professor de ciências políticas da Universidade de Valparaíso Guillermo Holzmann afirmou que ocorreram avanços na área de defesa, com a criação e desenvolvimento do Conselho Sul-americano de Defesa, que possibilitou a "transparência dos orçamentos de defesa e metodologias de comparação de gastos no setor", mas, ressalvou, com avanços "tímidos" na área de energia, entre outras.
"A verdade é que a Unasul tem tarefas pendentes", disse Holzmann.

Num artigo no jornal espanhol El País, Tokatlian afirmou que a criação da Unasul foi "transcendental" na América do Sul, mas nos últimos anos, disse, ela "parece estar perdendo o norte".

A Unasul reúne Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai, Venezuela, Colômbia, Peru, Chile, Bolívia, Equador, Suriname e Guiana. Uma união que inclui tanto países do Mercosul, ancorado na união aduaneira, como da Aliança do Pacífico, baseado no livre comércio.

Fonte: www.bbc.co.uk
 
Por:  Desirée Duque    |      Imprimir