Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 08-12-2014

A ficção, na realidade...
“A verdade só pode ser dita nas malhas da ficção”, Lacan.
A ficção, na realidade...

Motivado pelo forte movimento cultural em Cachoeiro de Itapemirim-ES, diga-se de passagem, para todos os gostos e linguagens, que estou na tentativa (sempre) de compreender o que há no fazer artístico que o faz tão importante e diferente de outros grandes temas da humanidade. Teria a Filosofia ou a Psicanálise algo a dizer sobre a ficção?

Ao me deparar com o tema: "O homem que representa: dramaturgia e cotidiano, ficção e realidade", conduzida por Fábio Brito, Sara Passabon Amorim e Fernando Marques, dentro da programação do 1º Cachoeiro Cult, as cortinas para meus questionamentos se abriram e as respostas entrando em cena, a cada ato.

Sei que boa parte das teorias psicanalíticas baseou-se em obras de arte. Freud - criador da Psicanálise - não escondia sua admiração por Shakespeare e por Goethe. Seu estudo sobre a obra e a vida de Leonardo da Vinci foi fundamental para expor suas teorias sobre a sexualidade e em Wilhelm Jensen encontrou um bom apoio para sua teoria sobre a psicose. Isso para não dizer que a pedra angular de sua construção foi "Édipo rei", de Sófocles.

Como classificar sua obra, "Totem e tabu", onde, magistralmente inventa um mito sobre a criação da cultura, tão bem difundido que parece verdade histórica até hoje? Ficção pura, dirão os que são mais chegados ao cientificismo. Por outro lado, há na ficção uma configuração de realidade, ao menos é o que me parece.

Fernando Marques ilustrou toda sua fala num desempenho catártico da sua vivência na ficção. Sara Passabon, brilhantemente, trouxe a luz ao palco do debate: "a inteligência que move o artista". E Fábio Brito mediou as interlocuções com maestria.

Sem a resposta que meu ego queria ouvir saí repensando a questão, já que por meio do conceito de expressão, Adorno considera tanto a realidade, da qual a arte deduz como também os elementos subjetivos (os artistas) são fundamentais para a realidade. Assim, arrisco dizer que a "fuga" para a ficção, de modo inteligente, é capaz de realizar – através da estrutura de sua obra – uma crítica contundente à cultura.

Não há uma regra que defina a busca pela ficção uma simples fuga do real, pois a ficção e a realidade, em alguns casos, se entrelaçam como uma boa atriz, que não gosta do universo adolescente, interpreta "Ofélia", personagem da obra "Hamlet", de Shakespeare.

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Por:  Roney Moraes    |      Imprimir