Categoria Geral  Noticia Atualizada em 08-12-2014

Queda no preço do petróleo pode ser boa notícia para economi
Poços de petróleo da formação de xisto de Bakken Field, no Estado americano de Dakota do Norte. A exploração do petróleo de xisto nos EUA, possibilitada por novas técnicas de perfuração como o fraturamento hidráulico, está aumentando a oferta de petróleo
Queda no preço do petróleo pode ser boa notícia para economi
Foto: br.wsj.com

Muitas das principais autoridades econômicas do mundo estão reescrevendo suas previsões para os Estados Unidos, Europa e outras regiões, numa aposta em que a queda dos preços do petróleo vai impulsionar o crescimento ao reduzir as despesas de consumidores e fabricantes.

Nos últimos dias, líderes do Fundo Monetário Internacional, do Federal Reserve (o banco central americano) e do Banco Central Europeu descartaram a ideia de que a queda nos preços do petróleo seja um sinal de desaceleração econômica. Em vez disso, eles estimaram que o petróleo mais barato dará uma injeção de ânimo na economia como um todo, principalmente nos países que gastam alto com importação de combustíveis.

Stanley Fischer, vice-presidente do Federal Reserve, chamou a queda do petróleo de um "choque de oferta" que vai ajudar os EUA. "Há mais probabilidade de o PIB aumentar do que diminuir", disse.

"O efeito é inequivocamente positivo", disse na quinta-feira o presidente do BCE, Mario Draghi, após a reunião mensal do banco.

Alguns economistas, porém, alertam que um recuo de quase 40% nos preços do petróleo nos últimos meses é menos um estimulante para a economia global e mais um prenúncio de um futuro sombrio, à medida que a Europa flerta com a recessão, o Japão tenta sair dela e a retração da China ameaça se aprofundar. De fato, quedas acentuadas no preço do petróleo tenderam, no passado, a ser associadas a recessões que provocaram o colapso da demanda por energia.

Só que, desta vez, uma série de fatores estimulando a oferta — desde técnicas avançadas de extração até a reativação de instalações na Líbia e um esforço de países produtores do Oriente Médio de tirar seus concorrentes do mercado — está alterando o cálculo de muitas autoridades e economistas.

"Desta vez é diferente", diz Guy Caruso, ex-presidente da Agência de Informação sobre Energia dos EUA e consultor sênior do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais.

Se a queda recente nos preços está sendo causada mais por um excesso de oferta ou uma redução na demanda é uma questão que pode determinar o futuro da economia mundial no próximo ano. O preço do West Texas Intermediate, o petróleo de referência nos EUA, caiu cerca de US$ 40 por barril, para em torno de US$ 60, desde meados do ano.

A queda nos preços está claramente prejudicando grandes exportadores como Iraque, Argélia e Nigéria, altamente dependentes da receita gerada pelo petróleo. A situação é ainda pior para Rússia, Venezuela e Irã, que já enfrentam graves problemas econômicos.

Mas nos grandes importadores como Japão, Itália e Alemanha, o FMI calcula que a queda nos preços pode adicionar quase um ponto percentual ao PIB de suas economias. O FMI elevou de 3,1% para 3,5% sua previsão para o crescimento dos EUA em 2015, em parte devido à despesa menor que o país terá com energia.

"Haverá ganhadores e perdedores, mas, em termos líquidos, é uma boa notícia para a economia global", disse na semana passada a diretora -gerente do FMI, Christine Lagarde, durante um evento anual do The Wall Street Journal para diretores-presidentes.

O fundo atribui cerca de 80% da queda dos preços do petróleo a causas ligadas à oferta, como a decisão da Organização dos Países Exportadores de Petróleo de não cortar a produção e a novos padrões de economia de combustível impostos por governos. Apenas 20% da queda no preço se deve ao declínio da demanda provocado pela desaceleração econômica, projeta o FMI.

Para os economistas do J.P. Morgan Chase, a proporção é de 55% para a oferta e 40% para o crescimento menor dos mercados emergentes. O banco, entretanto, ainda estima que a queda do preço do petróleo pode elevar o crescimento global em até 0,7 ponto percentual nos dois próximos trimestres.

Parte do impulso vem de custos menores do transporte e da produção — principalmente em setores que consomem muito petróleo, como o aéreo e o siderúrgico — e do dinheiro extra no bolso do consumidor.

Um risco para os formuladores de política é que a ideia de que a queda dos preços do petróleo é positiva pode ocultar o enfraquecimento da economia global. Mercados emergentes importantes, do Brasil até a África do Sul e a Índia, estão há mais de um ano em dificuldades, em parte devido à desaceleração chinesa.

"A China é a grande questão", diz Kevin Book, diretor administrativo da ClearView Energy Partners. Book duvida que o crescimento da demanda por petróleo em 2015 chegue perto da estimativa da Agência Internacional de Energia, de 1,1 milhão de barris diários. A razão: o crescimento menor que o esperado da segunda maior economia do mundo. "E a fraqueza num lugar geralmente é um presságio de uma fraqueza geral", especialmente na Europa, diz ele.

"Parece irracional achar que a indústria dos mercados emergentes está de alguma forma desconectada do consumo do mundo desenvolvido", diz.

A maioria das quedas anteriores no preço do petróleo foi acompanhada por recessões, ou pelo menos sinalizou uma retração. Uma série de contrações da economia dos EUA e de outras grandes potências no início dos anos 80 foi considerada culpada por derrubar os preços, ajustados pela inflação, de um pico de US$ 116 por barril, em abril de 1980, para US$ 25 em 1986, um mínimo de 13 anos. Os preços também recuaram com o surgimento da crise financeira da Ásia, no fim dos anos 90, e com a crise financeira global, em 2008.

Os economistas geralmente concordam que a atual queda dos preços está sendo parcialmente provocada pelo crescimento anêmico da Europa e a desaceleração da China. Mas a Agência Internacional de Energia e outros especialistas afirmam que a oferta excessiva é, em grande parte, responsável pela queda.

Caruso, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, projeta que o excesso de produção responde por cerca de 65% do declínio nos preços do petróleo. "É principalmente a oferta, com dados fortes em toda a América do Norte, num momento em que parte da produção que havia sido interrompida voltou", diz ele.

Fonte: br.wsj.com
 
Por:  Desirée Duque    |      Imprimir