Categoria Geral  Noticia Atualizada em 15-12-2014

Mulheres enfrentam violência caso se apaixonem no Paquistão
Em um país que luta para preservar suas tradições tribais, as mulheres paquistanesas enfrentam a brutalidade – e até a morte – caso se apaixonem pela pessoa errada.
Mulheres enfrentam violência caso se apaixonem no Paquistão
Foto: noticias.terra

Arifa, de 25 anos, enfrentou sua família e fugiu com o homem que amava, com quem se casou em segredo.

No dia seguinte, em uma rua movimentada de Karachi, a cidade mais populosa do Paquistão, membros de sua família cercaram os recém-casados e os ameaçaram com armas.

Eles levaram Arifa e passaram-se cinco dias até que seu marido, Abdul Malik, tivesse notícias dela.

"Recebi uma mensagem dizendo que ela havia sido morta. Foi o dia mais difícil da minha vida", relembra, tentando evitar as lágrimas.

"Depois de muito sofrimento, consegui provar que minha mulher está viva e foi escondida em algum lugar."

Com receio de ser assassinado, Malik vive escondido há três meses.

"No Paquistão, o amor é um pecado grave. Séculos se passaram, o mundo fez tanto progresso – homens chegaram até os céus. Mas nossos homens ainda seguem tradições e costumes da Idade das trevas", diz.

Essas tradições e costumes – com foco em negar liberdade às mulheres – têm cada vez mais aceitação no Paquistão e são encoraadas por estudiosos religiosos linha dura.

"Crimes de honra"
Este é um mundo em que, na prática, a mulher tem poucos direitos – ela é propriedade da família até o momento em que se casa.
Seus "donos", então, passam a ser os familiares de seu marido, e ela pode morrer se for considerado que desonrou a família.

Só em 2014, mais de mil mulheres foram mortas nos chamados "crimes de honra" – este é a apenas o número de casos dos quais as autoridades têm conhecimento.

Em maio, o caso da jovem Farzana Parveen chocou o mundo. Ela estava grávida quando foi apedrejada até a morto pela própria família, por ter se casado com um homem por quem se apaixonou, ao invés de casar-se com o homem que os familiares escolheram para ela.

O detalhe mais chocante é que o caso aconteceu diante do supremo tribunal de Lahore, de policiais e de transeuntes.

Em novembro, por causa da atenção que o caso recebeu da mídia internacional, o pai, o irmão o primo e o ex-noivo de Parveen foram condenados à pena de morte por assassinato. Outro de seus irmãos foi condenado a 10 anos de prisão.

Mas na maior parte das vezes, os perpetradores desses atos brutais contra mulheres nunca são acusados, já que são protegidos pelas leis tribais.
Alguns religiosos linha dura acreditam que só através da morte do membro da família que a ofendeu – geralmente uma mulher – a honra pode ser restituída ao resto dos familiares e à tribo.

O mais surpreendente é que poucas pessoas no Paquistão de hoje estão dispostas a desafiar essas tradições e costumes tribais.Na verdade, de acordo com uma pesquisa recente do Instituto Pew, a maioria dos paquistaneses apóia a implementação total da sharia – o sistema legal do Islã.

Apedrejamento e chicotadas

Nas ruas de Karachi, encontro uma madrassa (espécie de seminário) onde milhares de garotos recebem ensinamentos religiosos. Quero perguntar ao clérigo local o que ele pensa sobre adultério, razão pela qual as mulheres também são mortas em "crimes de honra".

Fonte: noticias.terra
 
Por:  Ingrid Leitte    |      Imprimir