Categoria Geral  Noticia Atualizada em 16-12-2014

Descoberta d anticorpos capazes de combater todas as dengues
Pesquisadores londrinos identificam uma classe de anticorpos capaz de combater os quatro tipos virais da doen�a. A prote��o completa pode reduzir os casos da enfermidade. Hoje, s�o 400 milh�es por ano em todo o mundo.
Descoberta d anticorpos capazes de combater todas as dengues
Foto: sites.uai

A dengue � uma infec��o sist�mica transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, que pode infectar humanos com quatro tipos virais (DENV sorotipo-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4). Eles se diferem por cerca de 30% a 35% na sequ�ncia de amino�cidos. Dessa forma, a vacina��o para um sorotipo leva a prote��o ao longo da vida apenas contra ele. Por esse motivo, a maior parte das estrat�gias de desenvolvimento de imunizantes da dengue busca op��es de vacinas tetravalentes, capazes de proteger o organismo de todas as cepas do pat�geno.


A trabalhosa procura por essa poderosa estrat�gia acaba de ganhar f�lego. Pesquisadores da Imperial College, em Londres, descobriram uma classe de anticorpos que poder�o ser usados sozinhos e combater todas as formas de dengue.

Em artigo publicado nesta ter�a-feira (16/12) no site da revista cient�fica Nature Immunology, a equipe liderada por Gavin Screaton analisou e caracterizou 145 tipos de anticorpos monoclonais humanos e identificou um ep�topo � determinante antig�nico � da dengue at� ent�o desconhecido. Trata-se da parte de um ant�geno que � reconhecida pelo sistema imunit�rio, especificamente por anticorpos, c�lulas B ou c�lulas T. Ela se liga ao anticorpo e est� presente no envelope de todas as formas virais.
Com essa nova informa��o sobre o v�rus da dengue, os cientistas desenvolveram uma classe de anticorpos monoclonais altamente potente e amplamente reativa. Em testes de laborat�rio, descobriram que eles reconheceram o ep�topo e eficientemente neutralizaram os v�rus em c�lulas de insetos e humanos, impedindo que a infec��o ocorresse.

Hoje, o reconhecimento por anticorpos de part�culas do v�rus � dificultado por mudan�as dram�ticas no momento de encapsulamento do ciclo de vida do pat�geno. "Existe uma necessidade urgente para compreender, portanto, a resposta imune humana naturalmente adquirida contra o v�rus e a resposta ap�s a vacina��o", afirma Screaton.

A pesquisa da Imperial College tornou o desenvolvimento desses anticorpos uma meta realista em dire��o a uma futura vacina universal contra a doen�a. "A descri��o aqui desses anticorpos potentes e de rea��o cruzada (que protege contra os quatro tipos virais) indica um caminho para o desenvolvimento de subunidades de vacinas contendo o ep�topo desejado e, possivelmente, estrat�gias para recapitular respostas observadas em infec��es naturalmente sequenciais", completa o imunologista.

Estrat�gia in�dita
Esse � o primeiro relato de um anticorpo capaz de neutralizar todas as quatro formas de dengue. Anualmente, s�o estimados 400 milh�es de casos da doen�a no mundo, sendo que cerca de um quarto deles � sintom�tico. H� evid�ncias epidemiol�gicas de que a vers�o grave ocorre mais regularmente numa segunda infec��o por um outro sorotipo. A dengue hemorr�gica leva a choque, hemorragia e morte.

Segundo o professor do Departamento de Medicina Cl�nica e do Departamento de Patologia da Universidade Federal do Cear� (UFC) Anast�cio de Queiroz Sousa, um dos grandes desafios atuais � a prote��o universal. N�o h� vacinas dispon�veis para nenhum dos tipos virais da dengue. "Foi produzida recentemente uma vacina (contra os quatro tipos) que, apesar de proteger um percentual importante de pessoas, est� muito longe do desejado. Se considerarmos todas as faixas et�rias, essa prote��o � de at� 64%", detalha o tamb�m membro do Comit� de Doen�as Emergentes da Sociedade Brasileira de Infectologia.

Sousa considera que, ainda sendo um resultado bom, ter quase 40% da popula��o desprotegida � preocupante. A grande vantagem do trabalho londrino, segundo ele, � ter encontrado um anticorpo que neutraliza todos os tipos do v�rus. O especialista observa que os testes para seguran�a e efic�cia da vacina e, posteriormente, o desenvolvimento em grande escala dela est�o distantes, mas ressalta que a descoberta divulgada j� � um avan�o consider�vel nessa dire��o.

"H� uma possibilidade muito grande porque eles j� perceberam isso em laborat�rio; e h� uma perspectiva muito positiva desses autores, considerando uma doen�a que n�o tem vacina e que as que est�o em �ltimos testes est�o longe da prote��o que gostar�amos." Sousa afirma que dificilmente poderemos esperar imunizantes t�o eficazes para a dengue como para outras doen�as virais, com cerca de 95% de prote��o. "A inten��o deve ser que o corpo humano, ao ser estimulado, produza os anticorpos monoclonais que est�o presentes contra quase todos os v�rus, bloqueando a multiplica��o e chegando � neutraliza��o."

Avan�o m�dico
Pertencem a uma classe terap�utica relativamente nova, e o desenvolvimento deles constitui um dos maiores avan�os da �ltima d�cada no tratamento de diversas doen�as, como infec��o por ebola e alguns tipos de c�ncer. Os anticorpos monoclonais, ou mAb, surgem a partir de um �nico linf�cito B, que � clonado e imortalizado, produzindo sempre os mesmos anticorpos em resposta a um pat�geno. Esses anticorpos apresentam-se iguais entre si em estrutura, especificidade e afinidade, ligando-se, por isso, ao mesmo ep�topo no ant�geno.
Detalhada volta do Aedes ao Brasil

Pesquisadores acreditam que descobrir a forma como o Aedes aegypti � transmissor da dengue, da febre amarela e do recente v�rus da chikungunya � migra pode ser a chave para a erradica��o dele. Para entender esse movimento, por�m, � necess�ria uma abordagem hist�rica. Um estudo publicado por Fernando Monteiro, do Laborat�rio de Epidemiologia e Sistem�tica Molecular do Instituto Oswaldo Cruz, na revista PLOS Neglected Tropical Diseases, aponta como os insetos retornaram para o Brasil ap�s serem erradicados na d�cada de 1950.

A pesquisa foi feita a partir da an�lise de trechos de DNA de cerca de 400 insetos capturados em 11 cidades das regi�es Norte, Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste, al�m da compara��o com mais de 300 mosquitos de oito localidades estrangeiras. Monteiro analisou a gen�tica dos insetos no pa�s e observou que os do norte teriam vindo de uma regi�o entre a Venezuela e os Estados Unidos. Os do Nordeste e do Sudeste brasileiro, do Caribe (veja mapa).

O trabalho � fruto de uma parceria com o autor-s�nior do artigo, Jeffrey Powell, da Universidade de Yale. "A grande vantagem de ter ido ao laborat�rio em Yale foi que todas as informa��es das amostras brasileiras puderam ser comparadas diretamente com as geradas por eles para as am�ricas do Norte, Central e do Sul", diz Monteiro. Entre as conclus�es mais importantes, est� a indica��o de que o programa da d�cada de 1950 para conter o mosquito da dengue no Brasil foi eficiente.

Ao fazer um controle que n�o � 100% eficaz, sobram insetos. As popula��es dessa �rea ficam, ent�o, pobres em variabilidade, porque o inseticida mata a maior parte desses bichos e os poucos que restam cruzam entre si. "Quando voc� genotipa os mosquitos e percebe a alta variabilidade, como acontece no Brasil, quer dizer que eles foram introduzidos de outras popula��es."

Fonte: sites.uai
 
Por:  Ingrid Leitte    |      Imprimir