China tentou travar reunião inédita consagrada unicamente às violações dos direitos humanos por parte do regime de Pyongyang.
Foto: publico.pt Naquela que foi a primeira reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas inteiramente consagrada aos direitos humanos na Coreia do Norte, a embaixadora norte-americana Samantha Power liderou o coro de críticas contra a ditadura comunista de Pyongyang.
Foi Samantha Power que recorreu ao relatório do Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas (divulgado no início deste ano) para citar testemunhos de ex-prisioneiros dos campos de trabalho norte-coreanos que relataram diversas "atrocidades": prisioneiros obrigados a sobreviver com uma dieta à base de raízes e ratos, prisioneiros torturados, violados e sujeitos a "castigos sádicos". Estes testemunhos "mostram que os norte-coreanos vivem um pesadelo", concluiu a embaixadora.
O relatório da ONU concluiu que existem entre 80 mil a 120 mil prisioneiros nos campos de trabalho norte-coreanos. E fala de crimes concretos: tortura, escravatura, violência sexual, discriminação social e de género, repressão política, perseguição política, execuções. Todos estão documentados com casos — a mulher que foi obrigada a afogar o filho recém-nascido, a família torturada por ter assistido a uma telenovela estrangeira na televisão, os prisioneiros obrigados a cavar as suas próprias sepulturas e depois mortos com pancadas de martelo no pescoço.
Estas atrocidades representam "uma ameaça para a paz e a segurança internacionais", afirmou Power. E garantiu que o Conselho de Segurança "vai continuar a falar regularmente dos direitos humanos na Coreia do Norte", depois desta primeira reunião e "enquanto estes crimes continuarem"
A responsável norte-americana pediu ao Conselho para "examinar a recomendação" da Assembleia Geral da ONU de recorrer ao Tribunal Penal Internacional (TPI) para julgar os crimes contra a humanidade cometidos na Coreia do Norte. Este pedido é apoiado por países como a França, a Austrália, ou o Reino Unido mas será sempre vetado pela China, o poderoso aliado de Pyongyang.
O embaixador francês François Delattre denunciou "uma mecânica terrível do regime norte-coreano para escravizar o seu povo" e saudou a reunião do Conselho de Segurança que assim pode ouvir "o grito desesperado das vítimas de um regime sanguinário". Para o representante de Paris, "os responsáveis de terror, a começar pelos dirigentes norte-coreanos, devem responder pelos seus actos em tribunal".
A muralha da China
A China tentou travar esta primeira reunião do Conselho de Segurança sobre a Coreia do Norte mas foi derrotada numa votação prévia, com 11 membros a favor, dois contra (Rússia e China) e duas abstenções (Chade e Nigéria).
O embaixador chinês Liu Jieyi defendeu que era necessário o Conselho de Segurança "abster-se de qualquer acção passível de exacerbar a tensão" na península coreana. E a Rússia argumentou que os direitos humanos não são da juridisção do Conselho de Segurança e que uma reunião como aquela "só poderia ter um impacto negativo".
Para as organizações de direitos humanos, a reunião do Conselho de Segurança marcou uma viragem importante, mesmo que os Estados-membros não tenham tomado qualquer decisão. "Hoje o Conselho de Segurança avisou Pyongyang que décadas de crueldade contra o seu povo devem acabar", explicou o director-executivo da Human Rights Watch, Kenneth Roth.
Fonte: publico.pt
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