Categoria Geral  Noticia Atualizada em 27-12-2014

O novo desafio da pacificação no Rio de Janeiro
Traficantes recrutam menores de idade para chefiar o tráfico nas favelas cariocas
O novo desafio da pacificação no Rio de Janeiro
Foto: epoca.globo.com

A pacificação das favelas cariocas começou em 2008 e avançou para valer no final de 2010, quando a polícia ocupou o Complexo do Alemão, na Zona Norte, a maior fortaleza dos traficantes no Rio de Janeiro. Quatro anos depois, as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) têm resultados para mostrar. Segundo um estudo divulgado na semana passada, elas reduziram em 65,5% os homicídios dolosos nas 50 favelas em que estão instaladas. As mortes em operações policiais caíram 90,7%. As UPPs enfrentam, no entanto, um novo desafio. Os bandidos de início recuaram, agora reagem às ocupações com emboscadas cada vez mais mortíferas. De janeiro a outubro deste ano, 15 policiais militares em serviço foram assassinados, oito deles trabalhando nas UPPs. Em 2013, dos 16 policiais mortos em ação, apenas três eram de UPPs. ÉPOCA teve acesso a documentos de investigações da Polícia Civil sobre como agem as quadrilhas que atacam os policiais. As investigações mostraram um dado novo e preocupante: o tráfico passou a recrutar menores de idade para postos de comando.

Jovens sempre foram arregimentados por traficantes, mas exerciam funções secundárias no comércio de drogas – transportavam pequenas quantidades de entorpecentes ou eram encarregados de disparar fogos de artifício como sinal da chegada da polícia. Agora, os meninos do tráfico viraram chefes. Por ser menores, eles recebem punições mais brandas quando estão presos, e logo estão livres para voltar ao "trabalho". O adolescente G.A., de 15 anos, é o exemplo mais recente desse novo método dos traficantes. Ele mora com os pais no Complexo do Alemão, parou de estudar no 7º ano do ensino fundamental e dizia trabalhar numa mercearia, com salário de R$ 250 por semana. Em setembro, depois de uma grande operação contra o tráfico na região, o Ministério Público Estadual apontou G.A. como um dos principais gerentes da venda de drogas, encarregado de administrar e proteger da polícia a boca de fumo.

Segundo os investigadores, G.A. faz parte da quadrilha responsável pelo assassinato, em 11 de setembro, do capitão da PM Uanderson Manoel da Silva, de 34 anos. Responsável pela UPP de Nova Brasília, uma das favelas do Alemão, Uanderson foi o primeiro comandante morto em confronto com o tráfico. Por quatro anos, nenhum policial em Unidades Pacificadoras foi assassinado. Desde 2012, quando ocorreu a primeira morte, 15 já foram vítimas. Sete deles estavam em unidades no Alemão.

G.A., o suspeito de envolvimento na morte de Uanderson, passou um mês internado numa instituição para menores infratores. No fim de outubro, foi colocado em liberdade assistida, com a condição de que prestasse serviços à comunidade durante três meses. A Justiça não informou se ele já começou a cumprir o determinado. G.A. não é o único menor suspeito de envolvimento na morte de PMs. Dez adolescentes, com idade entre 15 e 17 anos, foram identificados pela Polícia Civil. Além de G.A., outros dois ocupam a função de gerentes do tráfico. Seis foram levados para instituições de reeducação e já estão em liberdade. Um está foragido. O crescente envolvimento de menores com crimes mais graves levou o secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, a defender em entrevista a ÉPOCA a redução da maioridade penal para esses casos.

A polícia também está atrás dos aliciadores de menores. Edson Silva de Souza, de 27 anos, conhecido como Orelha, foi preso sob suspeita de ter recrutado sete menores para seu bando, dois para o cargo de gerente do tráfico. Em novembro, Edson foi solto graças a um habeas corpus. Um novo mandado de prisão foi expedido, mas ele agora está foragido. O serviço disque-denúncia, que mantém parceria com a Secretaria de Segurança Pública, ofereceu uma recompensa de R$ 20 mil por informações que levem a sua captura.

Em outra estratégia para enfraquecer a pacificação, traficantes se infiltram nos protestos de moradores de favelas para causar tumultos. Os protestos acabam em violentos ataques às sedes das UPPs. No dia 27 de abril passado, uma escuta telefônica autorizada pela Justiça captou a conversa entre um gerente do tráfico e sua comparsa. Ela disse que reunira mais de 50 pessoas para atear fogo na sede da UPP do Alemão. Naquela noite, a base da UPP se salvou. Quatro ônibus foram incendiados, e um posto médico depredado. A polícia identificou um menor de idade entre os mentores da ação criminosa.

A violência crescente contra policiais militares é um tema grave que começa a mobilizar os cariocas. Em protesto organizado pela ONG Rio de Paz, no início do mês, 152 cruzes de madeira foram fincadas nas areias da Praia de Copacabana. Cada uma delas representava um policial morto, durante sua folga ou em serviço, nos últimos dois anos.

Fonte: epoca.globo.com
 
Por:  Desirée Duque    |      Imprimir