Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 13-01-2015

EU TAMBÉM SOU CHARLIE

EU TAMBÉM SOU CHARLIE

Sete de janeiro de dois mil e quinze, Na Europa, a França foi tomada de extrema repulsa por um ato torpe e ignóbil de terroristas islâmicos que deixaram sem vida, em se próprio local de trabalho, doze pessoas, entre as quais famosos intelectuais cartunistas.

A carnificina não só doeu na Europa, mas também nos demais continentes. "Je suis Charlie" – "Eu sou Charlie", foi a frase adotada, fazendo referência ao nome do jornal "Charlie Hebdo" invadido por essas nefastas criaturas .Sem dúvida, uma bela demonstração de solidariedade...

A intolerância religiosa atinge aí um dos mais elevados graus. A pergunta que se faz é: Seria apenas intolerância religiosa ou uma sede insaciável de sangue, cultivada por seres humanos que vivem no limite da tênue linha que separa o homo sapiens de uma besta-fera qualquer? O mundo nem bem havia absorvido o golpe provocado pelo impiedoso assassinato de mais de cem crianças no local onde deveriam estar naquele horário: a escola. Simplesmente invadem um educandário e atiram em crianças e em quem, eventualmente, tenta defendê-las...Cabe aqui a tristonha expressão de Castro Alves: "Dizei-me vós, Senhor Deus! Se é loucura... se é verdade tanto horror perante os céus?!" Quem poderia explicar de forma satisfatória a extensão de tamanha hediondez? A Psiquiatria? A Psicanálise? A Filosofia? A Antropologia? A Teologia?...Não! Nada e nem ninguém conseguirá fazer com que durmamos sossegados num contexto de tanta crueldade!

E pensar que o alvo desses seres humanos odientos foi especificamente cartunistas, produtores de charges, artistas que, como sabemos, fazem uso do seu talento gráfico-humorístico – por vezes cáustico - para denunciar com sensibilidade sociológica, os desatinos e as mazelas de uma sociedade moderna sabidamente adoecida. Eles, esses cartunistas, mantêm vivo o sentido do adágio latino: "Ridendo castigat mores". Sim, rir é ainda uma forma de penalizar os costumes, eu diria, sórdidos costumes adotados por membros de uma sociedade enfermiça. Cartunistas são sempre geniais naquilo que fazem!... Ora, se são!

Particularmente, vejo nesse atentado contra cartunistas um alerta geral para todos os humoristas do planeta. Para tornar claro o que estou tentando dizer vai a frase que correu mundo em face da tragédia contra os jornalistas franceses: "O mundo se tornou tão sério que fazer humor se transformou numa profissão de risco." E eu diria não só humoristas profissionais correm risco, mas todos os que gostamos de fazer uma blague, uma chalaça, como dizia Machado de Assis; um chistezinho, para o Renato Aragão dos bons tempos, a espontaneidade criativa de um Muçum... Esse time deve pôr as barbas de molho nesses tempos de um mundo tão sério, eu quase ia dizendo tão idiota...

E eu, pobre diabo, conhecido pelos mais chegados como um incorrigível piadista, já estou pensando em mudar ( como se pudesse ) meu estilo de professor-doidão. Meu aluno pode até me achar engraçado mas quando tenta recontar a piada em casa para a mãe, ela irá fazer outra leitura, sem dúvida Ela não tem o senso de humor de um adolescente... E se for uma mãe muuuito evangélica - as piores, em minha opinião - então aí é que "bicho pega". Estou ciente de que dizendo o que disse, terei que retirar minha foto desta coluna e não revelar o meu novo endereço em Xangai, na China. É China mesmo, viu gente?... Vida de piadista é fogo!

Mas vou mudar, sim. Hei de conseguir! Os que gostam de minhas tiradas, quando me citam nos casuais reencontros, fico a pensar se realmente disse aquela "genial gracinha". Na dúvida, o estilo confere. Amigos, doravante não será mais "Perco o amigo, mas não perco a piada" Agora vai ser: "Perco a piada pra não perder a vida... ou o emprego." Tá achando que é piada?

Fonte:
 
Por:  Silvio Gomes Silva    |      Imprimir