Categoria Geral  Noticia Atualizada em 16-01-2015

Guerra. Turquia acusa Netanyahu de terrorista, Israel acusa
Guerra de palavras começou com a ida do primeiro-ministro israelita à manifestação de Paris. Netanyahu acusa líderes mundiais de cobardia por não condenarem as palavras dos responsáveis máximos da Turquia
Guerra. Turquia acusa Netanyahu de terrorista, Israel acusa
Foto: www.ionline.pt

As relações entre a Turquia e Israel estão péssimas há muitos anos. Particularmente desde o incidente com um navio enviado pela Turquia para a Faixa de Gaza com ajuda humanitária que Israel interceptou, um incidente que provocou diversos mortos do lado turco. E continuam pelas ruas da amargura desde que o Estado Islâmico irrompeu da guerra civil da Síria e atacou o Iraque, com a ocupação de território e de cidades, como Mossul. A coligação internacional de 22 países liderada pelos Estados Unidos nunca conseguiu o apoio da Turquia, país com uma vasta fronteira com a Síria, parte dela com zonas controladas pelos jihadistas. Apesar de as pressões de Washington sobre o seu parceiro na NATO terem sido muito fortes, Ancara apenas cedeu um pouco e deixou passar combatentes curdos iraquianos para participarem na defesa da cidade de Kobane, há meses cercada e atacada pelo Estado Islâmico. Este comportamento dúbio de Ancara resulta de a Turquia temer mais que tudo o protagonismo dos curdos, seus inimigos de estimação, e ainda mais a remota possibilidade de a comunidade internacional apoiar um estado curdo em territórios da Síria, do Iraque e, claro, turco.

A MANIFESTAÇíO DE PARIS A guerra de palavras começou logo no início da semana depois da ida de Netanyahu à manifestação de Paris. O presidente turco, Erdogan, não perdeu a oportunidade para acusar o primeiro-ministro de crimes contra a humanidade depois dos ataques a Gaza no Verão do ano passado. E ontem, para não ficar atrás do seu presidente, o primeiro-ministro turco Ahmet Davutoglu disse que o homólogo israelita, Benjamin Netanyahu, é "tão criminoso" como os terroristas responsáveis pelo massacre de Paris.

"Ao encabeçar um governo que bombardeia crianças que estão a brincar nas praias de Gaza, ao encarar com naturalidade a matança de palestinianos, ao matar os nossos cidadãos em águas internacionais quando se encontram a bordo de navios humanitários, Netanyahu comete um crime contra a humanidade igual ao dos terroristas que cometeram o massacre de Paris", acusou o chefe do governo turco antes de partir para Bruxelas, onde se vai reunir com altos responsáveis da União Europeia.

NETANYAHU: SILÊNCIO É COBARDIA O primeiro-ministro de Israel reagiu a esta guerra de palavras e pediu na quarta- -feira à comunidade internacional que repudiar os "comentários vergonhosos" de Erdogan, acrescentando que a "guerra contra o terror só terá êxito se for conduzida com clareza moral". Para o primeiro-ministro israelita, o silêncio dos líderes mundiais é um sinal de cobardia perante um país que apoia claramente o terrorismo, no caso o Estado Islâmico.

Se a escalada verbal atingiu níveis elavados, o facto é que a Turquia de Erdogan, um islamita que está a destruir aos poucos a Turquia laica da Ataturk, atacou forte e feio a edição desta semana do "Charlie Hebdo", proibiu a difusão do jornal na internet, censura que só um jornal laico turco ignorou e que pode vir a pagar caro esse acto de coragem. É que o regime islamita de Ancara não olha a meios para atingir os seus fins, com prisões em massa de militares, polícias e jornalistas.

PARLAMENTO EUROPEU ATACA ANCARA Ainda ontem o Parlamento Europeu condenou a Turquia por detenções de jornalistas e rusgas policiais, realizadas em meados de Dezembro, alertando Ancara para a importância da defesa da liberdade de imprensa. "Estas acções põem em causa o respeito pelo primado do direito e pela liberdade de imprensa, que constitui um princípio nuclear da democracia", diz a resolução aprovada pelos eurodeputados.

O PE relembra que a Turquia "assumiu formalmente o compromisso de os respeitar no seu pedido de adesão à União Europeia e respectivas negociações". Os eurodeputados sublinham ainda a preocupação perante a "crescente intolerância" do governo turco relativamente aos protestos públicos e aos meios de comunicação social que se manifestam criticamente. As autoridades turcas "devem ter o maior cuidado na forma como lidam com os meios de comunicação social e os jornalistas, uma vez que as liberdades de expressão e dos meios de comunicação social continuam a ser essenciais para o funcionamento de uma sociedade democrática e aberta", lê-se também na resolução. Os eurodeputados condenam o número particularmente elevado de jornalistas que se encontram em prisão preventiva e apelam às autoridades judiciais turcas para que revejam e dêem seguimento a estes processos o mais rapidamente possível.

O governo turco processa os jornalistas sobretudo ao abrigo da Lei Antiterrorismo e das regras do Código Penal relativas a organizações terroristas, "que têm sido utilizadas para restringir a liberdade de expressão", segundo a resolução.

Fonte: www.ionline.pt
 
Por:  Desirée Duque    |      Imprimir