Categoria Geral  Noticia Atualizada em 27-01-2015

Polêmico filme "A entrevista" estreia no Brasil
Longa ironiza ditador norte-coreano e resultou em invasão dos computadores da Sony e ameaça terrorista
Polêmico filme
Foto: divirta-se.uai.com.br

A melhor piada de "A entrevista" está nos 10 primeiros minutos do filme e não faz menção alguma ao ditador norte-coreano Kim Jong-un. Convidado do talk show de Dave Skylark (James Franco), o rapper Eminem é questionado a respeito de sua nova polêmica música, em que ele destila seu horror aos idosos.

Com o semblante tranquilo, o rapper explica que suas letras expõem seus próprios temores. A conversa continua até que Eminem sai do armário, deixando todos consternados. Diz com a mesma fleuma que é gay e que se impressiona de ninguém ter notado isso antes.

As risadas que a participação do rapper destila na plateia irão se repetir em menor grau e intensidade ao longo das próximas duas horas de exibição do filme. A entrevista, de Evan Goldberg e Seth Rogen, chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira.

Os fãs do humor sexista, repleto de palavrões, diálogos rápidos e referências à cultura pop que marcam as produções de Rogen e sua turma, seja como diretor ("É o fim", 2013) ou ator ("Superbad", 2007), vão encontrar aqui mais do mesmo.

A particularidade de "A entrevista", no entanto, é que o longa passa para a história como o pivô de uma das maiores dores de cabeça da major cinematográfica Sony, além de ter causado uma crise para o presidente dos EUA, Barack Obama, dentro de seu país (a política de segurança interna foi mais uma vez questionada) e fora dele (a nada fácil relação com a Coreia do Norte se complicou ainda mais) .

Em represália à chacota que o filme faz do líder supremo da Coreia do Norte, Kim jong-un, a Sony sofreu um ciberataque que expôs informações estratégicas da empresa e causou um prejuízo milionário.

Além de vazar roteiros e arquivos de filmes, os hackers divulgaram e-mails pessoais, valores salariais e segredos da indústria cinematográfica.

CONSTRANGIMENTO O constrangimento gerou até pedidos de desculpas, já que havia, na troca de correspondência entre os executivos da empresa, até piada racista sobre Obama.

A confusão se estendeu à estreia do filme, que a Sony inicialmente cancelou, acuada por uma velada ameaça terrorista, e em seguida voltou atrás, após ter sua atitude criticada pelo presidente dos EUA.

O longa acabou estreando há um mês em território americano, num circuito restrito de salas. Ganhou ainda lançamento simultâneo na internet. Até aqui, amealha US$ 46 milhões de renda, a maior parte desta verba vinda de downloads pagos, segundo a Sony.

A chegada de "A entrevista" aos cinemas brasileiros deve levar o público a tentar entender por que ele provocou tanta confusão. A história tem início logo após a tal entrevista com Eminem. Skylark, um abobalhado e histriônico apresentador de TV, luta para manter seu produtor, Aaron Rapaport (Seth Rogen), um competente jornalista que foi engolido pelo universo das celebridades.

Quando ocorre a ameaça de guerra nuclear da Coreia do Norte contra os EUA, Skylark descobre que Kim Jong-un (Randall Park) é fã número 1 de seu programa. Por isso, consegue marcar a única entrevista já concedida pelo ditador ao Ocidente.

TIRANO BELICISTA A chegada a Pyongyang, a capital norte-coreana, revela a Skylark um Kim Jong-un bem diferente do que o imaginado por ele. Ainda é o mesmo tirano belicista que o Ocidente sempre desenhou, mas é também um apaixonado pela cultura do consumo.

O personagem é apresentado como um garoto mimado, que adora basquete, carros de luxo e Katy Perry ("Firework" é executada mais de uma vez no filme). Carregado de estereótipos, participa de orgia regada a álcool e drogas com o apresentador de TV, é visto nu em cena e admite ser apontado como gay por ser louco por margaritas.

Com Skylark entrando na onda do ditador, Rapaport parte para o contra-ataque para conseguir que a entrevista não seja chapa-branca e revele as maldades que Kim Jong-un comete contra a população.

No entorno desse enredo improvável, muitas piadas de duplo sentido (com ênfase para trocadilhos repetitivos em torno do ânus), e interpretações tão exageradas que beiram a chatice (não por acaso, Roth e Franco estão com três indicações ao Framboesa de Ouro, o Oscar dos piores, por seus papéis, tanto solo quanto em dupla).

O riso não corre solto como na parte inicial do filme, mas algumas gargalhadas são garantidas. Se A entrevista vale tanta polêmica? Certamente não, mas uma ida ao cinema para assisti-lo não vai fazer mal a ninguém.

Um estado de exceção
Pablo Pires Fernandes

Um dos mais fechados Estados do mundo, a República Democrática Popular da Coreia do Norte é fruto da Guerra Fria e de um acordo entre a União Soviética e os EUA.

Ocupada pelo Japão em 1905, a Península Coreana foi invadida durante a Segunda Guerra Mundial pelas duas grandes potências e dividida. Em 1948, o Norte se recusou a realizar eleições promovidas pelas Nações Unidas e, em 1950, o governo de Pyongyang e o de Seul entraram em guerra, com a União Soviética e a China apoiando o Norte e os EUA, o Sul.

A Guerra da Coreia se estendeu até 1953, quando foi assinado um armistício e criada a Zona Desmilitarizada da Coreia entre os dois países. O líder e fundador da Coreia do Norte, Kim Il-sung, implantou uma política comunista em que o Estado detém todos os meios de produção.

Oficialmente, a Constituição de 2009 define o regime como socialista, mas, na prática, trata-se de uma paradoxal ditadura governada pela mesma família. A dinastia autocrática teve a primeira troca de liderança em 1994, quando Kim Il-sung, o Líder Supremo e Eterno Presidente, morreu e foi sucedido por seu filho, Kim Jong-il.

Após a morte de Jong-il, em 2011, seu filho mais novo, Kim Jong-sun, assumiu a liderança do Partido dos Trabalhadores e do país. Muito pouco mudou na estrutura de poder desde então, com o Exército de 1,19 milhão de militares (um dos cinco maiores do mundo) desempenhando papel central no comando do país.

O culto à personalidade de seus líderes é mantido desde a sua fundação. O controle total da mídia e a mão de ferro contra qualquer dissidência reforçam o fechamento político do regime, que mantém grandes prisões e campos de trabalho para quantidade indefinida de presos políticos.

A relação entre as duas Coreias sempre foi de amor e ódio. Apesar de um desejo comum de reunificação, as duas nações mantêm um afastamento ideológico praticamente incompatível com a orientação política autocrática do Norte.

Em 2007, Kim Jong-il visitou a Coreia do Norte e assinou tratados de cooperação. A cooperação, porém, é frequentemente interrompida devido aos confrontos na região fronteiriça. Mais recentemente, o jovem ditador, de cerca de 30 anos (sua idade real é segredo de Estado), acenou a Seul com a possibilidade de nova negociação e até uma possível reunificação.

A Coreia do Sul manteve dezenas de milhares de militares norte-americanos em bases na região desde o fim da guerra. Ainda hoje, cerca de 18 mil soldados norte-americanos estão estacionados no Sul.

No entanto, nada mais causa apreensão a respeito do regime de Pyongyang do que seu programa nuclear. Desenvolvido com ajuda soviética, o reator de plutônio de Yongbyon já produziu pelo menos quatro bombas atômicas.

Em 2003, o país se retirou do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP) e, em 2006, realizou um teste nuclear. Um segundo teste, em 2009, sepultou as negociações de desmantelamento de seu programa nuclear, que ocorria desde 1994, em troca de ajuda econômica.

O país acusa os EUA de serem hostis e vê com desconfiança a presença militar norte-americana na região, com bases no Sul e no Japão. Recentemente, Seul informou que os mísseis norte-coreanos continuam se desenvolvendo e que teriam a capacidade de atingir alvos em território norte-americano.

O episódio do ataque cibernético contra a Sony é mais um exemplo da briga entre Pyongyang e Washington e poderá ter implicações políticas a curto prazo, já que os EUA declararam que vão retaliar.

No entanto, o Exército de hackers da Coreia do Norte, estimado em 6 mil militares, tem capacidade de ataque e não deve deixar em branco qualquer ação contra seu país.

Fonte: divirta-se.uai.com.br
 
Por:  Desirée Duque    |      Imprimir