Categoria Geral  Noticia Atualizada em 19-02-2015

Produto Interno Bruto do país deve encolher 0,42% neste ano
Resultado da pesquisa Focus foi divulgado nessa quarta-feira pelo Banco Central
Produto Interno Bruto do país deve encolher 0,42% neste ano
Foto: em.com.br

Não foram só os foliões que exageraram na bebida que sentiram a ressaca do fim do carnaval. Também o governo teve uma quarta-feira de cinzas para esquecer. Nessa quarta-feira, o Banco Central (BC) divulgou a mais recente pesquisa Focus. Os resultados são devastadores: pela primeira vez no ano, o mercado financeiro passou a prever que o Produto Interno Bruto (PIB) ficará abaixo de zero este ano. Pior do que isso. Os analistas de bancos e corretoras consultados pela autoridade monetária não apenas derrubaram as projeções, mas o fizeram de forma mais intensa do que o imaginado. Em vez de estagnação, as apostas, agora, são de que a economia encolherá 0,42% em 2015.

Enquanto isso, a inflação continuará sem dar sossego às famílias. Pela sétima semana consecutiva, o mercado revisou para cima as estimativas para o custo de vida no país. Agora, as apostas são de que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subirá 7,27% este ano. Numa só tacada, se a previsão for confirmada, o governo pode registrar dois recordes indigestos: a maior carestia em mais de 10 anos e, pela primeira vez desde 2004, o BC pode fracassar na tarefa de manter o custo de vida dentro do limite de tolerância da meta de inflação.

Há quem aposte num cenário ainda mais desconfortável. "Não está chovendo como deveria e isso implicará em custos adicionais com as usinas térmicas, que são mais caras. Então, o reajuste médio da conta de luz será de, no mínimo, 50% este ano, o que baterá pesado na inflação", disparou o economista-chefe Banco Modal, Alexandre de Ázara. Ele prevê que o IPCA encostará nos 8% este ano, em função dos reajustes de preços administrados e de fatores que não dependem diretamente do controle do governo, como a escalada do dólar.

O mercado financeiro também traça um cenário preocupante para o câmbio este ano. Diante das preocupações com o cenário internacional, investidores continuam batendo em retirada de países considerados frágeis, como o Brasil, e buscando proteção na maior economia do Mundo, os EUA, o que faz o dólar se valorizar. Por isso, a tendência da divisa é de alcançar novas máximas nos próximos meses, encerrando o ano cotada a R$ 2,90.

Era de se esperar que com um real mais fraco perante ao dólar, as indústrias brasileiras, especialmente as exportadoras, tivessem melhor desempenho do que o registrado nos últimos anos. Mas é justamente o contrário que prevê o boletim Focus. Após tombar 3,2% em 2014, a produção industrial deve recuar 0,43% este ano. Há apenas uma semana, as apostas eram de que o movimento nas fábricas se expandisse 0,44% em 2015. Mas, pesará contra os empresários um novo ano de vacas magras no comércio, em função da esperada queda do consumo das famílias.

SELIC EM ALTA Os analistas são unânimes: com o dólar e a inflação nas alturas, o BC terá que subir ainda mais os juros básicos, de modo a frear repasses automáticos nos preços e coibir uma elevação maior do custo de vida. Por isso, as apostas são de que o Comitê de Política Monetária (Copom) manterá o ritmo de aperto na taxa Selic, com a elevação de 0,5 ponto percentual. Havia um entendimento de que, com o país em recessão, o BC poderia diminuir a intensidade da alta, e aprovar apenas mais uma correção na Selic de 2015, de 0,25 ponto, para 12,50% ao ano.

Para piorar, também a conjuntura política tem pesado contra o cenário econômico deste ano. Ex-economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) Roberto Luis Troster menciona as derrotas do governo no Congresso e cita como ponto de preocupação a votação do Orçamento Impositivo, capitaneada pelo presidente da Câmara, o peemedebista Eduardo Cunha (RJ). A medida pode elevar em R$ 10 bilhões o rombo nas contas públicas em um ano em que o governo precisa cortar gastos para conseguir economizar 1,2% do PIB para o superávit primário.

"As pessoas não estão tendo noção da gravidade de medidas como essa", disse Troster. "Ou o Congresso rema na mesma direção de uma política de austeridade fiscal, ou a situação do país ficará insustentável. Em vez de três trimestres de recessão, nós poderemos ter três anos de PIB negativo. Se os parlamentares não colaborarem, esse será o resultado", alertou.


Fonte: em.com.br
 
Por:  Ludyanna Ferreira    |      Imprimir