Categoria Opinião  Noticia Atualizada em 23-02-2015

A “verdade” do sujeito na psicanálise
“Ao que não podemos chegar voando, temos de chegar manquejando” (Freud, 1920/2006, p.75).
A “verdade” do sujeito na psicanálise

Sigmund Freud, ao criar o conceito de inconsciente, subverte a noção do sujeito cartesiano enquanto sujeito da razão.

Se em Descartes "penso, logo existo", e com isso define a existência do ser, este seria o ponto anômalo entre a teoria cartesiana e a teoria freudiana. Em psicanálise, pensar não equivale a ser, pois, como disse Lacan, "sou também onde não penso". O fato de pensar não me assegura que eu seja. O sujeito é uma descontinuidade e não uma linha reta objetiva.

O "Cogito Ergo Sum" (Penso logo existo) foi usado como argumento por Descartes em sua obra "Meditações" na tentativa de fundamentar sua "Teoria do Conhecimento". Em meio de tantas questões o cogito surge como uma certeza alcançada por Descartes : "só posso estar certo de que penso, pois mesmo que duvide, ainda assim, continuarei pensando".

O existir para Descartes tem como comprovação o ato de pensar, é uma "verdade" filosófica afirmativa que o ser é capaz de duvidar, e propõem que para duvidar é preciso pensar.

Porém, Freud postula que "o ego não é o senhor da sua própria casa", ou seja, o ego pensa saber o que, na realidade, não sabe. É no inconsciente que habita a "verdade" do sujeito.

Assim Freud destrona o eu do lugar de unidade e saber como considerado por Descartes. No discurso do sujeito da psicanálise, a consciência e a razão deixam de ser o lugar da verdade, representando o lugar do engano. Por outro lado a subjetividade passa a ser uma realidade dividida entre os sistemas consciente e inconsciente.

Na representação do sujeito em psicanálise, a razão, ou o ego, não pode ser definida como instrumento de acesso à verdade das coisas. É na subjetividade inconsciente que dá ao próprio sujeito um sentido repleto de significações sem que nenhuma possa ser apontada como verdadeira.

Assim, Freud encontrou a "verdade" no discurso de seus analisantes através dos sonhos, dos atos falhos, dos chistes e dos sintomas. Ele, a"verdade", está lá dentro. Nas profundezas do inconsciente. Este é o sujeito da psicanálise.

Fonte: O Autor
 
Por:  Roney Moraes    |      Imprimir