Categoria Geral  Noticia Atualizada em 17-03-2015

«Rebel Heart», Madonna
Um, dois, três, a conta que a Rainha fez até o que tem para dizer de novo ao mundo ser basicamente irrelevante. Em «Rebel Heart», Madonna não tem pernas para correr atrás da banda larga pop. Não se pode dizer que seja uma novidade.
«Rebel Heart», Madonna
Foto: discodigital.sapo.pt

Há uma teoria maldosa contra os críticos de Madonna que passa por atribuir a falsa ideia de que o principal argumento usado está na idade. Falso. O defeito dos últimos sete anos, desde que «Hard Candy» saiu à rua, tem sido a incapacidade de ler o mundo e gerir uma carreira que, por compromisso, tem a obrigatoriedade de absorver o exterior.

Madonna não mudou muito mas o mundo sim. Ser omnívora em 2015 não é igual a sê-lo em 1985, 95 ou 2005 e, de facto, o olhar sobre a pop não se alterou e passa por colher a fruta da época e plantá-la no pomar pessoal e interior do palácio.

Mas para isso, são necessários os cúmplices certos à hora certa. «Hard Candy» (2008) ficou com as sobras de Timbaland, «MDNA» é um banho de azeite EDM após uma sessão de aeróbica no ginásio e «Rebel Heart» uma colheita de segunda ou terceira apanha da contaminação da cultura negra junto da pop americana.

Madonna nunca foi líder como David Bowie no Séc XX ou Kanye West no Séc. XXI. Nem inventou o feminismo pop (Rita Hayworth?, Marilyn Monroe?!, Elizabeth Taylor?!?!). Mas sempre soube chegar a tempo das montras e ser o centro da colecção.

Tudo isto é seguidismo sem norte e o tombo nos Brit Awards não foi apenas um acidente. Uma capa atirou Madonna para o fundo mas a digressão de «MDNA» já deixara evidente a falta de pernas para correr atrás da voragem pop no sentido mais físico da performance.

Em Coimbra, Madonna parecia um Fiat Punto a correr atrás de bailarinos de Ferrari. Essa imagem expressa a relação difícil com os desafios dos tempos modernos da Internet e das redes sociais.

Omitamos a discussão palaciana sobre o reinado da pop até porque Madonna já entregou o testemunho a Kanye West e por estes dias a notícia é a participação de «Yeezus Cristo» em «Rebel Heart» e não a de Madonna em «So Help Me God», a opinião da Rainha sobre o comentário sem filtro na atribuição do Grammy de Álbum do Ano a Beck e a falta de tempo do rapper e produtor para ser o Rick Rubin de «Rebel Heart» - se isto não é uma mudança de paradigma, o que será?

«Rebel Heart» é o pior que podia acontecer a Madonna. Já não é só uma questão da vulgaridade das canções, da produção executiva duvidosa e da perda de cotação nas bolsas de valores da pop. É o lugar de irrelevância onde é colocado o que Madonna tem para dizer de novo ao mundo. Isto já não é a luta pelo trono, é uma tentativa desesperada de sobrevivência.

E tudo poderia ser tão mais simples se Madonna parasse de correr atrás da novidade e olhasse para os seus aposentos. Bastava continuar a fazer o que sempre fez no tempo certo: imitar. David Bowie.

Madonna

«Rebel Heart»

Interscope/Universal

Davide Pinheiro

Fonte: discodigital.sapo.pt
 
Por:  Desirée Duque    |      Imprimir