Categoria Geral  Noticia Atualizada em 24-03-2015

Com McLaren na "lanterna", desafio de Alonso na Malásia será
Caso seja aprovado, piloto estreará no ainda pouco desenvolvido conjunto McLaren-Honda, que atinge baixas velocidades nas retas, principal característica de Sepang
Com McLaren na
Foto: globoesporte.globo.com

O delegado médico permanente da FIA para a F-1, o neurologista francês Jean-Charles Piette, e o médico-chefe para assistência no autódromo, o anestesista e especialista em tratamento intensivo Ian Roberts, inglês, já estão com o relatório enviado pelos três médicos da Universidade de Cambridge, Inglaterra, sobre Fernando Alonso. Eles realizaram testes de memória curta e longa, além de reflexos, no espanhol, semana passada. Quinta-feira, no Circuito de Sepang, Piette e Roberts vão submeter o piloto da McLaren-Honda a nova série de testes. Se aprovado vai disputar o GP da Malásia, no próximo fim de semana, segundo do calendário. Mas o que aguarda Alonso se, como parece, puder deixar os boxes da pista malaia com o modelo MP4/30-Honda quinta-feira, às 23 horas, horário de Brasília, no primeiro treino livre da competição?
Quando Alonso disse a Marco Mattiacci, em julho do ano passado, que deixaria a Ferrari, o diretor da equipe italiana pediu para aguardar até agosto, as férias da F-1, a fim de que todos pudessem se reunir e chegar a um acordo. Referia-se a ele próprio, Alonso e o presidente da Ferrari, Luca di Montezemolo. A razão alegada pelo tão controverso quanto brilhante piloto foi uma só: não confiar que a escuderia lhe daria um carro capaz de lutar pelo título. Em setembro, com a notícia da saída da Ferrari já pública, Alonso afirmou: "Não acredito nos rumos que o time está tomando"
Mas seus planos de se transferir para a RBR-Renault e até mesmo a Mercedes não deram certo. A vaga de Sebastian Vettel na RBR ficou para o novato russo Daniil Kvyat e a equipe alemã ratificou o contrato de Lewis Hamilton e Nico Rosberg. Sem alternativa, aceitou a proposta milionário de Ron Dennis, da McLaren, para ganhar estimados 30 milhões de euros (R$ 105 milhões) por ano. Mas há um preço nisso: tanto a McLaren quanto a Honda estão desenvolvendo novos projetos, de chassi e unidade motriz.

O carro que Alonso provavelmente vai pilotar na prova mais quente e úmida do calendário fez uma estreia desastrosa no GP da Austrália, dia 15, abertura do campeonato. No primeiro treino livre, sexta-feira, dia 13, Jenson Button, companheiro de Alonso, obteve o 14º tempo, 1m34s542, dentre os 16 que treinaram, e completou apenas 6 voltas. O mais rápido na sessão foi Nico Rosberg, com a Mercedes W06 Hybrid, 1min29s557, e 18 voltas. Button foi, portanto, 4 segundos e 985 milésimos mais lento.
No segundo treino livre, também na sexta-feira, Button, 13º, ficou a 3s690 de Rosberg, o mais rápido. No último treino livre, sábado de manhã, a melhor McLaren foi a de Kevin Magnussen, 16º, dentre 18 pilotos, mas a 3s524 de Hamilton, o primeiro.
Resultado humilhante
Na sessão que definiu o grid, Button e Magnussen estabeleceram os dois piores tempos, 17º e 18º, não passaram do Q1. Com todos os atenuantes que um projeto novo possa ter, não deixou de ser uma humilhação. A McLaren tem 12 títulos de pilotos e 8 de construtores. Button registrou 1m31s422 e Hamilton, o pole position, 1m26s327. Diferença entre ambos: 5s095 milésimos. O limite para se classificar em Melbourne, ou 107% do tempo do pole position, era 1min34s787.
No domingo, antes ainda da largada a McLaren já enfrentou sérias dificuldades. Na volta de alinhamento Magnussen encostou o carro fora do asfalto e apesar de haver, ainda, pouco menos de meia hora para o início da prova, não foi possível reparar o problema na unidade motriz. O substituto de Alonso no GP da Austrália sequer largou.

Já Button recebeu a bandeirada, mas em 11º e último. E disse até mesmo estar bastante satisfeito, apesar de ter tomado duas voltas do vencedor, Hamilton. "Serviu de grande aprendizado para todos." O inglês campeão do mundo falou, ainda, que para completar a corrida os técnicos japoneses tiveram de reduzir a potência da unidade motriz, além de pedirem para conter seu ritmo por causa da necessidade de economizar gasolina. O regulamento impõe 100 quilos de combustível, cerca de 120 litros, na prova.

"A minha velocidade de curva não era diferente da dos carros que me ultrapassavam, em alguns casos até melhor. Sua vantagem era nas retas, onde iam embora", contou Button, para explicar seu otimismo com o resultado na abertura do Mundial. Mas sua melhor volta, 1m33s338, na 56ª passagem, só não foi pior que a melhor do estreante Max Verstappen, da STR-Renault, 1m34s295. Ocorre que o holandês abandonou na 30ª volta, portanto a comparação não pode ser feita, pois havia substancial massa de gasolina, ainda, no tanque do seu modelo STR-30.
Uma referência mais realista para Button seria comparar sua marca com a de Hamilton, na 50.ª volta, a melhor da prova, 1min30s945. Diferença entre a melhor volta da Mercedes e da McLaren: 2s393. Resultado bem melhor que os mais de 5 segundos na classificação para o grid.
Kimi Raikkonen, com a Ferrari SFT15-T, foi o autor da terceira melhor volta, 1m31s426, a 0s481 da de Hamilton, sendo ainda que aquela era a sua 36ª volta, o que significa que a Ferrari ainda estava relativamente pesada.
Andar lá atrás
O equipamento que Alonso deverá pilotar no GP da Malásia será, em essência, o mesmo de Button e Magnussen em Melbourne. Com o agravante de que a velocidade nas retas representa, nos 5.543 metros e 15 curvas do Circuito de Sepang, um elemento ainda mais importante no desempenho geral do conjunto.

Aquele projeto que Alonso acreditou que não representaria um passo adiante em relação ao que possuía em 2014, o modelo SFT15-T da Ferrari, permitiu a Vettel largar em quarto no grid e receber a bandeirada em terceiro, pódio já na estreia na escuderia italiana, a 34s523 do vencedor Hamilton. Button, como foi dito, levou duas voltas do piloto da Mercedes.
Outro dado que mostra o quanto a McLaren-Honda terá ainda de trabalhar é sua impressionante menor velocidade nas retas. Na sessão que definiu o grid, quando os pilotos procuram tirar o máximo do carro, o mais rápido foi Valtteri Bottas, com Williams FW37-Mercedes, 329,0 km/h. Vettel marcou 327,6 km/h, terceiro. Rosberg, 323,1, e Hamilton, 323,0 km/h.
Button e Magnussen registraram as piores velocidades, bem distantes de Bottas: 312,8 e 312,5. Trata-se de uma diferença de 16,2 km/h entre a melhor unidade Mercedes e a Honda, enorme para os padrões da F-1. Ainda que vários fatores interfiram na velocidade máxima possível, como a carga aerodinâmica, não deixa de ser uma referência por ser a obtida numa classificação.
Alonso está se preparando fisicamente ainda mais para estrear na McLaren-Honda, permaneceu dias no simulador do modelo MP4/30 em Woking, sede da equipe, ao Sul de Londres, e afirmou em vídeo na internet não ver a hora de voltar a competir. O misterioso acidente que o afastou das pistas aconteceu dia 22 de fevereiro, no Circuito da Catalunha, em Barcelona, portanto há mais de um mês.
Diante desses números, fica claro que a escolha de Alonso de aceitar o desafio do projeto da McLaren-Honda, em detrimento de apostar na reformulada Ferrari, parece apenas ratificar seu histórico de deixar seus times sempre no momento mais inapropriado. Seu imenso talento não é capaz de, sozinho, resolver tudo. Muita gente deseja saber como vai reagir na Malásia, se correr, ao pilotar um carro tão mais lento que os mais velozes.

Fonte: globoesporte.globo.com
 
Por:  Desirée Duque    |      Imprimir