Categoria Cinema  Noticia Atualizada em 19-08-2011

"Lanterna Verde" escorrega no corpo sarado de Ryan Reynolds
Ryan Reynolds não convence como Lanterna Verde

Foto: cinema.terra.com.br

Há um episódio da série The Big Bang Theory em que Sheldon, personagem compulsivo obsessivo do esguio e pouco atlético Jim Parsons concorda em ir a uma festa na condição de levar sua estimada lanterna do Lanterna Verde. Sua deixa para socialização com os demais é o juramento do herói: "No dia mais claro, na noite mais densa, o mal sucumbirá ante a minha presença". Dito isso, Sheldon arregala os olhos e temos uma cartunização da ideia do super-herói. Pois bem, o Lanterna Verde pastiche de Sheldon, acreditem, é mais convincente em seus nobres e genuínos propósitos que o Lanterna Verde Top Model de Ryan Reynolds.

A mais nova adaptação cinematográfica assinada pela DC Comics padece do mesmo mal de vários outros filmes com a marca da editora e coloca em tela uma história feita por comitê (roteirizada por uma penca de gente contratada para não deixar rastros de autor) e confusa sobre a quem precisa agradar: os fãs dos quadrinhos e do personagem - tais como o próprio Sheldon - ou a grande bilheteria que não faz ideia de quem seja o personagem. Pelo resultado que vemos em cena, a produção não chegou a uma conclusão e o que se tem é ora um filme cansativamente didático, ora estranhamente preso aos quadrinhos, e sempre mal sucedido naquilo que, méritos de adaptação de lado, é elementar-meu-caro-Watson para qualquer filme: roteiro.

O trem descarrilha ainda nos primeiros minutos, quando assistimos a um prefácio em computação gráfica sobre quem representa o Bem e o Mal na história - basicamente, verde x amarelo. Texto esse ditado por uma daquelas vozes que parece ser a do seu avô contando uma história com um sintetizador na boca. Digamos que a introdução é aquele primeiro parágrafo do Wikipédia que tenta explicar o que, como, por que e onde da história, no bom e velho "lide" jornalístico. Logo em seguida, surge nosso protagonista, em dois minutos descrito como: pegador, sarado, inconsequente, irresponsável e, por tudo isso, engraçadinho. Camadas de um personagem pronto para estrelar a próxima temporada de Malhação.

Pois bem, de posse de todos esses atributos acima citados, além claro do fato de ser ele Ryan Reynolds, o homem mais sexy do planeta em 2010 segundo a revista People, Hal Jordan é o humano criteriosamente escolhido pelo anel que o irá transformar no primeiro terráqueo membro da Tropa dos Lanternas Verdes, formados por seres intergaláticos, indivíduos de extrema bravura, coragem e força de vontade que protegem os rincões do universo do maior mal que nos acomete: o medo, aqui representado pela entidade chamada Parallax.

Até o momento em que as escolhas do filme envolvem os atributos físicos do rapaz, tudo ok. O Lanterna Verde é um personagem sobretudo carismático e certamente um galã entre os membros da Liga da Justiça. Portanto, concessões de fetiche são esperadas, ainda por cima quando você sabe que a roupa do super-herói em questão é desta vez uma projeção em computação gráfica e, portanto, mais colada ao corpo do que se possa imaginar. Em tempo: o uso digital dessa vestimenta foi uma das poucas decisões acertadas do filme.

O problema se dá mesmo quando o filme recorre a esse modelo de personagem, sem muitas convicções morais além daquelas que se encerram em sua própria beleza, para sustentar uma história que tinha tudo para render uma excelente e até mesmo profunda discussão de valores: coloque a palavra "medo" (grande vilã da trama) nas mãos de um Christopher Nolan (diretor dos mais recentes Batman) ou sob a supervisão de um Bryan Singer (X-Men 1 e 2) e dá para entender do que estamos falando.

Em lugar de aproveitar o vasto material que o personagem dos quadrinhos lhe proporciona, o diretor Martin Campbell - se é que ele realmente teve controle de alguma decisão criativa neste filme - faz uma colagem de cenas em estilo quase pastelão, ora forçando um humor muitas vezes desnecessário e fora de tempo, ora carregando no drama modelo capítulo final de novela das nove. Melhor exemplo disso é ver Tim Robbins no papel de um senador americano cuja maior distensão dramática neste filme é arregalar os olhos nas cenas em que alguém grita por trás da câmera: "agora faz cara de surpresa!". Para piorar a situação, o casal protagonista do filme, formado por Reynolds e Blake Lively (da série Gossip Girl), tem a mesma porcentagem de química que a parcela de gordura no corpo do ator principal: 0%.

No mais, é um filme bobo, com cenas de ação pueris e soluções pouco imaginativas e já cansadas de guerra, tais como colocar pôr do sol em fundo de beijo romântico ou como fazer um helicóptero cair no meio de uma festa. Faltam questionamentos básicos ao personagem, falta texto, falta direção de ator e a computação gráfica também fica a dever em vários momentos - de onde se explica a decisão de usá-las quase sempre em fundos escuros, onde os erros são menos perceptíveis.

Sheldon, certamente, tentaria fazer melhor que isso.

Fonte: cinema.terra.com.br
 
Por:  Wellyngton Menezes Brandão    |      Imprimir