Categoria Tragédia  Noticia Atualizada em 13-01-2008

FARC:filho de ex-refém foi entregue a plantadores de coca
Clara Rojas foi separada do filho quando ele tinha oito meses
FARC:filho de ex-refém  foi entregue a plantadores de coca
Foto: Mauricio Dueñas/AFP

Clara Rojas, refém das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) libertada na quinta-feira (10), viajou neste domingo (13) da Venezuela à Colômbia para se encontrar com Emmanuel, seu filho de três anos. O menino, que aos oito meses foi entregue a uma família de plantadores de coca, é filho de Rojas com um dos guerrilheiros que a seqüestraram há seis anos.

Clara, 44, era assessora da candidata à presidência Ingrid Betancourt, que continua em poder dos guerrilheiros, quando foi seqüestrada. No cativeiro no meio da floresta, ela se envolveu com o guerrilheiro Juan David, de quem engravidou aos 41 anos. Ela teve Emmanuel em abril de 2004.

O parto foi muito complicado: a cesariana foi feita por um guerrilheiro que estudou medicina, mas não chegou a se formar. Ao nascer, o bebê teve uma séria fratura no braço. Mais tarde, contraiu doenças. Aos oito meses, Emmanuel foi arrancado dos braços da mãe e entregue a uma família de plantadores de coca.

A casa para onde a criança foi levada fica na cidade de San Jose de Guaviare, no sudeste da Colômbia, em uma região sob controle dos narcotraficantes das Farc. O dono da casa -- hoje sob proteção do governo colombiano -- tinha filhos de pele clara e cabelo escuro, parecidos com o pequeno Emmanuel. O menino foi registrado como Juan David, o nome do pai guerrilheiro.

Em sua nova casa, a criança apresentava pioras na saúde. No hospital local, constataram que ele tinha malária, leishmaniose, desnutrição, diarréia aguda e a fratura no braço, seqüela da cesariana. Ao perceber o grau de abandono da criança, as assistentes sociais passaram sua guarda para um instituto do governo, que cuida de menores órfãos.

Cerca de 40 dias, por causa de seu grave estado de saúde, Emmanuel foi transferido do Hospital de San Juan de Guaviare para um instituto especializado em ortopedia infantil, na capital, Bogotá. Com um ano e meio de idade, ele foi operado para recuperar a fratura do braço. Mais tarde, esse ferimento foi fundamental para a identificação do menino.

Depois de tudo isso, Emmanuel trocou de mãos mais uma vez. Em Bogotá, passou a viver no que os colombianos chamam de "núcleo substituto". É uma família que recebe crianças abandonadas sob a supervisão do instituto de bem-estar da família, ligado ao governo colombiano. O menino morava em uma casa, com mais três crianças, em um bairro simples, no sul da capital do país.

O endereço é mantido sob sigilo pelas autoridades da Colômbia, mas a equipe do Fantástico descobriu a casa e foi até lá. Uma mulher que parecia ser empregada da casa, recebeu a equipe da janela, disse que os donos não estavam e, rapidamente, encerrou a conversa.

Falar sobre o caso de Emmanuel gera um pavor na redondeza. Uma vizinha diz que nunca viu o menino. Outro vizinho desconversa. A exceção é dona Margarita, que mora em frente à casa onde o menino viveu dois anos e meio. Ela conta que até comprou carrinhos para ele, de presente de Natal. Dona Margarita diz que o menino - a quem chamava de Juan David - é muito alegre e ativo. Ela conta que a criança vinha sendo muito bem cuidada pela mãe substituta, que o tratava como se fosse um filho legítimo. "Estou triste por ele ter saído daqui, mas também me sinto feliz, porque, em breve, estará com a mãe."

Em Bogotá, sempre acreditaram que aquela criança era órfã de pai e mãe. Tanto que, em fevereiro de 2006, a maior emissora de televisão da Colômbia chegou a exibir, em um programa que estimula a adoção de orfãos, uma foto de Emmanuel, apresentado como Juan David Gomes Tapiero. Até aquele momento, ninguém sabia que Juan David era Emmanuel, o filho da refém Clara com um guerrilheiro.

Essa história começou a mudar no fim do ano passado, quando o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, negociou com a guerrilha, que prometeu libertar três reféns em poder das Farc: a ex-congressista Consuelo González, Clara Rojas e o filho dela, Emmanuel.

As Farc acabaram suspendendo a operação, alegando falta de segurança. Segundo o governo da Colômbia, as Farc suspenderam a operação porque, na verdade, não estavam mais com Emmanuel. Pretendiam fazer uma encenação: tirar o menino de onde ele estivesse e entregá-lo junto com as duas reféns.

Mas não conseguiram, e, àquela altura, as autoridades colombianas já desconfiavam que o menino com marcas no braço que vivia com uma família substituta pudesse ser o filho de Clara Rojas. Para confirmar a suspeita, fizeram um exame de DNA. O sangue de Emmanuel foi colhido e comparado com o sangue de outras duas pessoas: a mãe de Clara, a refém, e Ivan Rojas, irmão. Os exames confirmaram que o menino tratado por Juan David era mesmo Emmanuel.

Desde o começo do ano, ele está vivendo em um abrigo para menores, em Bogotá, vigiado pelo Exército e pelo Serviço de Inteligência da Colômbia.

FARC:filho de ex-refém foi entregue a plantadores de coca.

Fonte:

Acesse o G1

 
Por:  Felipe Campos    |      Imprimir