Categoria Policia  Noticia Atualizada em 22-08-2013

Médica dirá à polícia que remédio não afetou suspeito de chacina em família
Neiva Damaceno deverá ser ouvida nesta quinta pela Polícia Civil de SP. Ela tratou de Marcelo Pesseghini, que teria matado parentes e se suicidado.
Médica dirá à polícia que remédio não afetou suspeito de chacina em família
Foto: www.agorams.com.br

A médica do único suspeito de assassinar toda a família e se suicidar na Brasilândia, Zona Norte de São Paulo, no início deste mês, dirá à Polícia Civil de São Paulo que os remédios tomados por Marcelo Pesseghini, de 13 anos, para combater uma grave doença degenerativa não afetavam o comportamento do estudante ou lhe causavam transtornos psicológicos.

O Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) quer saber se o uso contínuo de medicamentos contra fibrose cística pode ter afetado o adolescente e contribuído para os crimes.

A pneumologista Neiva Damaceno acompanhou o tratamento de Marcelo contra a doença desde a sua infância na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, na região central. Em entrevista ao G1, ela adiantou o que deverá declarar nesta quinta-feira (22) aos investigadores. Mais de 30 pessoas já foram ouvidas pela polícia para tentar esclarecer o caso.

"Os medicamentos que tomava não tinham implicação ou efeito colateral. Os remédios não mudaram seu comportamento ou lhe trouxeram transtornos psicológicos. Essa doença também não comprometia o desenvolvimento neurológico ou mental. Também não há relato de uso de droga, de anormalidade de comportamento", disse a médica.

O adolescente é apontado pelo DHPP como o principal suspeito dos disparos que mataram seus pais, o sargento das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) Luís Marcelo Pesseghini, de 40 anos, e a cabo Andreia Regina Bovo Pesseghini, de 36 anos, a avó materna Benedita de Oliveira Bovo, de 67 anos, e a tia-avó Bernadete Oliveira da Silva, de 55 anos. Os crimes foram cometidos nas casas de um mesmo terreno onde todos moravam. O motivo dos assassinatos e do suicídio ainda não são conhecidos.

Medicamentos
Entre os medicamentos que Marcelo tomava estavam vitaminas, insulina injetável e outros remédios. A fibrose cística é uma doença genética que afeta o funcionamento de secreções do corpo, levando a problemas nos pulmões e no sistema digestivo. Ela não tem cura e pode levar à morte precoce. Quando era bebê, alguns médicos teriam dito aos pais que ele não sobreviveria até os 4 anos. A polícia investiga se os crimes poderiam estar relacionados à doença do garoto, que teria pouca expectativa de vida.

"Ele não corria nenhum risco de morrer. Estava ótimo. Chegou à segunda década de vida em condições excelentes de saúde", disse a médica que atendeu Marcelo pela última vez duas semanas antes do crime.

Questionada pela equipe de reportagem se ela acredita na versão apresentada pela polícia de que foi seu paciente que assassinou a família e se matou em seguida, Neiva respondeu: "Para mim ainda é inexplicável. Foi um susto, um choque, uma surpresa".

Segundo a médica, Marcelo ia para o tratamento na Santa Casa acompanhado da mãe e da avó materna e, eventualmente, pelo pai. "Me lembro de um menino educado, sorridente, carinhoso que nunca teve transtorno de comportamento", disse Neiva.

Crime
Para a polícia, Marcelo assassinou a família entre a noite do dia 4 e a madrugada do dia 5. A investigação aponta que, depois, ele foi para o Colégio Stella Rodrigues com o carro da mãe de madrugada, assistiu às aulas pela manhã, confessou os crimes a colegas, retornou de carona para a residência da família na Brasilândia, e se suicidou.

Novas imagens de câmeras de segurança mostram os dois colegas deixando a escola ao lado de Marcelo, no dia 5 de agosto. Cerca de dez minutos depois, ele atravessa a rua e pega carona com o pai de um outro amigo para ir para casa.

Para o delegado do DHPP, Itagiba Franco, os depoimentos auxiliam a traçar um perfil psicológico do garoto, que é o principal suspeito da polícia. Trinta e cinco pessoas já foram ouvidas.

Na quarta-feira, o delegado-geral da Polícia Civil, Maurício Blazek, disse que, apesar das investigações ainda não terem terminado, todas as evidências apontam para Marcelo como autor dos crimes.

Laudos necroscópicos e da cena do crime que estão sendo feitos pela Polícia Técnico-Científica devem ficar prontos nos próximos dias e vão esclarecer questões ainda não explicadas pelas investigações, como a provável hora em que cada um morreu, quem foi baleado primeiro e porque a mãe foi a única que parecia estar acordada quando foi baleada. Ela estava ajoelhada sobre o colchão onde o marido dormia e com as mãos cruzadas sob a cabeça. As demais vítimas pareciam ter sido assassinadas durante o sono.

Surto
Na opinião do psiquiatra forense Guido Palomba não há dúvidas de que Marcelo matou a família. O especialista, que foi convidado pela Polícia Civil para acompanhar as investigações do DHPP, sugeriu ainda que o adolescente pode ter tido um surto psicótico.
"Possivelmente ele estava num estado de anormalidade mental, num estado de estreitamento de consciência. Nesse estreitamento de consciência ele praticou os delitos, pegou o automóvel, dormiu dentro do carro, foi a aula, saiu da aula e chegou em casa. Quando ele chega em casa a mente volta para o normal, digamos assim. Ela sai daquele estreitamento, ele tem consciência daquilo que aconteceu e se suicida", disse Palomba na quarta-feira (21) ao SPTV.

"Os Mercenários"
A Polícia Civil apura ainda se mais pessoas sabiam do grupo "Os Mercenários", que teria sido criado pelo adolescente para matar desafetos - inclusive familiares. Três colegas de escola do garoto disseram em depoimento que o aluno criou o grupo inspirado no game "Assassins Creed".

Segundo autoridades ligadas à investigação, no grupo "Os Mercenários" havia uma lista com nomes de desafetos que deveriam ser mortos. Um dos nomes seria o da diretora do Colégio Stella Rodrigues, Maristela Rodrigues.

Ganhariam pontos quem matasse parentes num paralelo com o game, que dá pontos ao jogador. Para os colegas, no entanto, o grupo seria uma diversão e não havia intenção de ser colocado em prática.

A influência do jogo de videogame foi citada também pelo advogado Arles Gonçalves Júnior, presidente da comissão de segurança da Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo (OAB-SP). Na sexta-feira (16), ele afirmou que os depoimentos prestados revelam que o menino apresentou uma mudança de comportamento influenciada pelo jogo de videogame.

Marcelo usava a imagem de um personagem do "Assassins Creed" no seu perfil do Facebook. O suspeito trocou a foto do perfil no dia 5 de julho. Esta foi a última atualização de Marcelo na rede social.

No dia 8 deste mês, a desenvolvedora de games Ubisoft, criadora do jogo Assassins Creed, divulgou nota de repúdio à ligação feita entre o jogo e o assassinato da família Pesseghini.

Fonte: g1.globo.com
 
Por:  Maratimba.com    |      Imprimir